Portugal tinha planeado, para o início do ano de 1906, realizar uma expedição militar ao Cuanhama, com o intuito de ocupar aquela região, impondo a soberania portuguesa de forma visível e real, que não deixasse dúvidas aos vizinhos alemães, que ocupando a região de Damaralândia (região central do Sudoeste Africano), cobiçavam esta região. A expedição esteve preparada nos seus ínfimos pormenores e chegou a ter marcas postais para o seu serviço postal. A marca de dia acabou por ser inicialmente utilizada na subsequente expedição ao Sul de Angola de 1914. (Figura 1)
Figura1 - Sobrescrito com as marcas da expedição cancelada |
Em Março de 1906, Alves Roçadas como Governador de Distrito da Huíla, recebeu um telegrama do Governo-Geral de Angola informando-o de que o Governo Central tinha desistido da realização daquela expedição e incumbia-o de realizar a ocupação progressiva daquela região com as forças militares e civis, bem como com os meios logísticos que entretanto se encontravam no Distrito, destinados à operação militar que fora cancelada.
Alves Roçadas, reuniu de imediato uma coluna composta por uma Companhia de Cavalaria-Dragões, a 1.ª e 2.ª Companhias de Infantaria Europeia, um pelotão de Sapadores, a 3.ª, 8.ª, 11.ª e 15.º Companhias Indígenas às quais acrescentou auxiliares boers, portugueses e gente de Orlog, tendo marchado em direcção ao Rio Cunene e construído um reduto na sua margem direita. De seguida construiu uma passagem sobre o rio e edificou uma fortificação na margem esquerda, que mais tarde recebeu o nome de Forte Roçadas em sua homenagem, já em pleno território do Cuamato Pequeno, conseguindo a defesa da travessia do rio e assegurava também uma base fortificada para futuras operações.
Alves Roçadas |
Depois de instalado na margem esquerda fez algumas incursões nas proximidades do forte, tendo trocado por diversas vezes fogo com a gente afecta ao soba Pocolo. Uma das suas incursões levou-o a invadir as terras de Mucuma, Jau e Batabata, destruindo as libatas e culturas dos nativos, como castigo pela sua rebeldia.
Mapa da região com sinalização do forte D. Luís de Bragança |
Alguns quilómetros a sul de Damequero iniciou a construção de um forte, ao qual foi atribuído o nome de D. Luís de Bragança em homenagem ao Príncipe Luís Filipe que nesse momento havia passado por Moçamedes na sua viagem às colónias portuguesas de África, assim como às colónias inglesas da África do Sul e Rodésia. O ano de 1907 foi um ano especial para o Príncipe Luís Filipe que para além de ter exercido a regência do Reino durante o curto período que durou uma visita protocolar ao estrangeiro de seu pai D. Carlos I realizou, em época agitada, a referida viagem entre 1 de Julho e 27 de Setembro, acompanhado pelo Ministro da Marinha Aires de Ornelas.
Príncipe Luís Filipe |
Este forte implantado em pleno coração do Cuamato Pequeno iria ter uma importância estratégica importante. Com a tomada de posse de João de Almeida como Governador do Distrito da Huíla em Janeiro de 1908 a sua acção governativa foi preponderante para o desenvolvimento do distrito. O serviço postal não foi excepção tendo-se criado novos itinerários assim como novas estações postais nas zonas ocupadas. Um dos itinerários passou a ligar o Humbe ao Forte D. Luís de Bragança, com o correio a ser transportado por soldados indígenas, ou civis contratados na região.
Nem sempre as autoridades provinciais eram céleres na criação das estações postais e João de Almeida acabou por criar algumas por sua iniciativa entregando-as a comerciantes e militares. Foi o que aconteceu em 1908 com a criação de uma estação postal no Forte D. Luís de Bragança. Esta situação transitória haveria de ser corrigida oficialmente com a publicação da Portaria n.º 599 de 30 de Junho de 1909, no Boletim Oficial n.º 27 de 2 de Julho do mesmo ano, que cria a referida estação com a categoria de 3.ª classe, que para além do serviços próprios da categoria também podia permutar encomendas postais.
Não são conhecidas obliterações do período em que funcionou como estação postal por iniciativa do Governador local. Como estação oficial é conhecia a única marca conhecida que reproduzimos na figura 2. Esta marca é de grande raridade, pois o forte D. Luís de Bragança foi destruído pelos alemães na sua incursão ao Cuamato Pequeno em 1914, e nunca mais foi reconstruído. A destruição do forte originou como consequência o encerramento da estação postal que aí funcionava. O regime político tinha-se alterado e com ele foram desaparecendo os símbolos monárquicos, não voltando a ser reaberta.
Figura 2 |
A estação postal de D. Luís de Bragança era servida pela linha do Cunene, recebendo malas semanais, que chegavam do Lubango, nos dias 10, 17, 23 e 29 de cada mês e expedindo, para a mesma estação, nos dias 2, 11, 20 e 26. Se repararmos dois dos selos apresentam as datas correspondentes aos dias de saída das malas. O terceiro tem um desfasamento de três dias, porém sendo Março um mês muito pluvioso na região com inundações frequentes, pode ter originado um atraso na expedição da mala de correio.
Bibliografia
Boletim Oficial de Angola
Meio Século de Lutas no Ultramar, Bello de Almeida, 1937
Investidas Alemãs ao Sul de Angola (Subsídios para a sua história), 1934
O Sul de Angola, João de Almeida
Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira
Relatório do Governador Ferreira do Amaral
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