Enquanto o Mundo se encontrava mergulhado numa terrível guerra, na África Austral procurava-se desenvolver a aviação comercial, com os parcos meios que se dispunham na época.
A construção da barragem de Vaal na África do Sul, iniciada no período de depressão dos anos trinta, foi dada como concluída em 1938. Esta barragem, quatro anos depois seria uma estrutura fulcral como ponto de escala na abertura de uma linha aérea que ligava Lourenço Marques a Durban, porque permitia a utilização dos hidroaviões da BOAC (British Overseas Airways Corporation. Em 5 de Janeiro de 1941 realizou-se o primeiro voo ligando L. Marques a Durban que transportou 28 cartas.
Barragem de Vaal |
A 3 de Fevereiro do mesmo ano inicia-se a aceitação de correspondência de Lourenço Marques para Johannesbourg via Vaal Dam pela BOAC, tendo circulado nesse voo 54 cartas.
Cerca de um ano depois, mais precisamente a 6 de Junho de 1942, a SAA (South Africa Airways) inicia uma nova ligação aérea de Johannesbourg para Leopoldville via Entebe. Neste primeiro voo circulam de Moçambique 20 cartas que chegam a Leopoldville a 12 de Junho.
A 19 de Junho esta nova linha é prolongada até Ponta Negra na costa ocidental de África, permitindo que a partir daqui e pelos aviões da DTA (Direcção dos Transportes Aéreos de Angola) se faça a ligação a Luanda.
Figura 1 |
Ficava assim aberta mais uma ligação aérea entre Lourenço Marques e Luanda com escalas em Vaal Dam , Johannesbourg, Leopoldville e Ponta Negra.
Neste primeiro voo completo da nova ligação aérea foram transportadas apenas 20 cartas de Lourenço Marques para Luanda.
Deste primeiro voo possuo o belo exemplar que se reproduz nas figuras 1 e 2. Remetida de Lourenço Marques (19.06.42) para Luanda (30.06.42) com trânsito por Leopoldville (25.06.42) com o porte de 2$10.
Figura 2 |
Foi censurada em Johannesbourg com cinta mod UC8, tipo 2A2 (classificação John Little) e carimbo batido a violeta tipo 8A letra B atribuído a Johannesbourg. Na figura 3 reproduzimos o recorte do jornal Diário de Luanda de 29 de Junho de 1942 com a notícia da saída de Luanda do avião da DTA na sua ligação a Ponta Negra e que no regresso traria o correio transportado no referido voo.
Ultimamente apareceram dois ou três filatelistas contestando a autenticidade das cartas circuladas por via aérea por Virgílio Simões Netto, interveniente no exemplar apresentado, com a agravante de se fazerem insinuações de que as cartas jamais terem transitado nos aviões.
Figura 3 |
Parece-me que os bons princípios da filatelia começam a ser banidos, porque na dúvida ou é falso ou é fabricado, e nunca se procura encontrar as respostas às dúvidas. O estudo, pesquisa e a sensatez nas afirmações são princípios que os bons filatelistas não devem perder de vista.
Virgílio Netto foi um apaixonado pela aviação, e um entusiasta do correio aéreo. Sem o seu labor e conhecimentos não seria possível hoje usufruirmos de exemplares que ilustram a história do correio aéreo em geral e o da África Austral em particular. Haja respeito pela sua memória. Vergílio Netto era alguém que se relacionava bem com os Correios das colónias portuguesas e inglesas, o que lhe permitia fazer circular estas cartas para as postas restantes das diversas estações postais de destino dos voos, e depois recupera-las com a ajuda dos funcionários postais. Nada mais do que isto. Caros filatelistas sosseguem os vossos espíritos, espantem os vossos fantasmas.
Bibliografia
· The airposts of South Africa de N. C. Baldwin e M. F. Stern
· Check list of the Airmail History of Portuguese East Africa de Capt. M. F. Stern
· South African Airmails de Nicholas Arrow
· British Empire Civil Censorship Devices WWII * Colonies and Occupied Territories in Africa , 2000, John Little
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