Foi com estas “parangonas” que o Jornal de Benguela de 22 de Maio de 1972 (segunda-feira), anunciava o acidente aéreo ocorrido no dia anterior, um domingo, na cidade do Lobito.
Nesse dia 21 o avião Friendship Fokker F27, propriedade da DTA – Direcção dos Transportes Aéreos de Angola, com a matrícula CR-LLD fazia a programada ligação aérea de Luanda a Moçamedes, com escalas no Lobito e Sá da Bandeira. No seu interior transportava 21 passageiros e 4 tripulantes a saber: Comandante Hamilton Fernandes, o co-piloto Arnaldo A. Mesquita, o mecânico José Trindade e a assistente de bordo Ana Maria Reis. Pelas 7H40 o rádio-farol assinala a entrada do avião na barra do Lobito. Um espesso nevoeiro, cinzento e lúgubre pairava sobre a cidade do Lobito, não permitindo uma boa visibilidade. Depois desse momento, mais nenhum sinal do avião foi assinalado. Havia-se despenhado em pleno oceano. As causas do acidente nunca foram plenamente explicadas, porém apontava-se para erro humano. Segundo declaração do co-piloto sobrevivente, o seu colega Comandante Hamilton Fernandes, um piloto muito experiente, terá a determinado momento proferido as palavras “Rodas no chão”, só que ainda estava longe da pista e as rodas poisaram na água.
Figura 1 - Tipo de avião sinistrado |
Dado o alerta do desaparecimento do avião, iniciaram-se de imediato as buscas, porém o forte nevoeiro dificultava a acção das equipas de socorro, compostas por autoridades civis e militares, pescadores com as suas traineiras e civis com os seus barcos de recreio. Uma embarcação acabaria por descobrir os primeiros destroços e depara-se com 3 sobreviventes, os únicos que foram resgatados com vida: Arnaldo Mesquita (co-piloto) e os passageiros Victor Manuel Alves e Luís Duarte Teixeira Martins (inspector da D.G.S).
Finalmente a 12 de Junho pelas 19H00 a tripulação do arrastão “Mercedes” propriedade de Fernando Silva residente na Baía Farta, encontrou os principais destroços numa área compreendida entre o Hotel Términus e a Cabaia, a 3 kms da costa e a uma profundidade de 60 metros.
Figura 2 |
Dos destroços do avião conseguiu-se recuperar algum correio que era transportado para as estações postais de escala. Dos salvados tive a oportunidade de adquirir, cerca de 30 anos depois deste fatídico acidente, a carta reproduzida nas figuras 2 e 3.
A carta é remetida de Luanda (20.05.72) para Sá da Bandeira (29.05.72). Pagou de porte 2$00 correspondente a: 1$00 pelo primeiro porte de correio aéreo (peso até 5g) por franquia mecânica a vermelho com flâmula patriótica “TODOS UNIDOS TORNAMOS ANGOLA MELHOR” e 1$00 do imposto postal para o “POVOAMENTO”.
Figura 3 |
No verso da carta e como medida regulamentar justificativa do atraso verificado na entrega da correspondência, o chefe da Estação Postal de Sá da Bandeira, Mário Reis, lavrou a seguinte declaração:
“DECLARAÇÃO Declaro que esta carta só deu entrada nesta Estação em 29/05/72 em virtude de ter vindo no avião sinistrado entre LUANDA/LOBITO”.
Por norma, para nós filatelistas por cada exemplar que compramos para as nossas colecções, normalmente temos uma “estória” para contar. Esta não foge à regra. Como é gíria no meio filatélico foi uma “borla”. Há uns anos, numa feira filatélica, dedicava-me a dar uma “vista de olhos” numa caixa que continha umas centenas de cartas, todas à venda por um euro, quando de repente surge esta pequena maravilha. Um testemunho de um facto, infelizmente trágico, da história da filatelia e da aviação civil angolana. São estas pequenas “surpresas” que tornam a filatelia um mundo apaixonante.
Bibliografia
· Jornal de Benguela de 22 de Maio de 1972 (Ano 60.º)
Eu estava lá...
ResponderEliminarOs principais destroços-cabine-, foram recuperados em frente à CABAIA, e a sua recuperação foi vista a olho nú, razão de não perceber os 3 Kms... Morava no Bairro do Compão perto do Jardim escola, na rua fragoso de Matos.
Reinaldo J. M. Pacheco
Caro Reinaldo Pacheco
EliminarEu não estava lá, portanto o que foi reproduzido no artigo teve como base o que veio descrito na imprensa da época. Nem sempre os relatos da comunicação social são precisos o que pode levar a imprecisões. Fica assim aqui o seu testemunho precioso para que os leitores do meu blog possam ter informação mais precisa, prestada por quem viveu o momento. Grato pela colaboração.
Obrigada por ter colocado esta informação! Soube de mais alguns aspectos deste acidente que desconhecia... O meu avô viajava a bordo deste avião e infelizmente, não foi um dos sobreviventes. Chamava-se José Seita Machado.
ResponderEliminarCumps