Congo Ialla foi um antigo Posto Fiscal Militar, criado por Portaria Régia n.º 409 de 1895, substituído pela Delegação de S. António, em 10 de Outubro de 1896. Por Congo Ialla foi também conhecido e designado um posto militar instalado num sítio chamado pela Pedra do Feitiço, nas margens do Rio Zaire.
A designação de Congo Ialla confunde-se com o sítio chamado Pedra do Feitiço. São na essência dois nomes que designam um mesmo local. Região inóspita, quase que despovoado, foi em tempos assim descrita por Ferreira da Costa (1907-1974) na sua obra “Pedra do feitiço – Reportagens africanas vividas e escritas por Ferreira da Costa (1945):
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Comovidamente meditado, somatório de recordações fiéis, êste volume nem sequer no título obedece a capricho ocasional ou preferência de eufonia. A Pedra do Feitiço existe. Fica distante de Santo António do Zaire, quási em frente de Boma. É um morro pedregoso, agreste e nu. Triste. Sinistro, por vezes. Assenta no limite de savanas bravias, onde as tsé-tsé instilam venenos letais, os carnívoros despedaçam corças e todos os brutos urram de ansiedades frenéticas, nos contactos da procriação. Para lá da colina rochosa, desliza o grande rio majestoso – o Zaire. O calor martiriza. Entontece. Leva ao desvario. Nem réstea de sombra, para lenitivo de tamanho tormento. Em tôrno, não se vislumbram sinais de vida humana. Paira um silêncio trágico, primitivo, só atenuado, ao descer a noite, pelo resfolegar dos hipopótamos e os gritos estridentes dos abutres. Chega-nos o cheiro nauseabundo da carne podre – carcassas sanguinolentas, restos dos festins nocturnos das panteras e dos chacais. Na margem, entre limos e juncos, brilha o olhar vítreo dos jacarés.
Penedos musgosos, carne morta ou chicoteada pelos instintos primários, ranger de queixadas que devoram, exalações de venenos dispersos nas ervagens ou suspensos nos ferrões dos insectos, goelas famintas esperando vítimas na beira-rio, coisas que apodrecem numa fermentação borbulhante que faz mêdo... Calor. Mudez. Ninguém. É assim a Pedra do Feitiço."
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Será neste local, e no posto militar aí instalado, que em 1897 foi criada uma estação postal de 3.ª classe, a cargo do comandante do referido posto. Esta é uma das estações postais de Angola menos representada na marcofilia de Angola. Conhecíamos a existência desta estação postal pelas listagens editadas pelos Correios de Angola, porém nunca tínhamos observado qualquer marca de dia. Finalmente acabamos por encontrar a tão desejada e procurada marca de dia.
Este tipo de carimbo é criado cerca do ano de 1900 e baseia-se num octógono com diagonal vertical, com um rectângulo interior de ângulos biselados a servir de apoio a dois segmentos circulares. No arco superior a legenda “CONGO PORTUGUEZ”. É esta a única diferença em relação aos carimbos da mesma tipologia de Angola, motivada pela criação em 1894 do chamado Distrito Postal do Congo, cindindo-se de Angola para efeitos políticos, porém sempre na dependência administrativa da Repartição Superior de Fazenda de Angola.
Esta estação postal de Congo Ialla é uma das estações criadas com objectivos estatísticos que suportassem as nossas pretensões de potência administrante. Com este tipo de acções pretendia-se justificar que estávamos a fazer a ocupação efectiva dos territórios africanos que reclamávamos estar em nossa posse, numa luta sem quartel com os ingleses.
O documento registado apresentado é extremamente importante pois trata-se do Mapa Estatístico da estação postal do Congo Ialla referente ao mês de Abril de 1901. Vejamos então os números apresentados:
Correspondência expedida
Cartas
Para a Província 7
Para Portugal 1
Correspondência recebida
Cartas
Nacional 9
Países da UPU 1
Jornais 3
Impressos
Nacional 4
Países da UPU 2
Registos 3
Venda de selos postais
2 ½ reis 4
5 reis 5
15 reis 4
20 reis 7
50 reis 2
100 reis 1
Ou seja, durante o mês de Abril de 1901, venderam-se 435 reis de selos postais, única receita da estação postal. Estes valores são elucidativos da importância desta estação postal.
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