Forte do Capelongo (1907) |
Na
linha do estudo individualizado que se vem fazendo dos carimbos numéricos
volantes, que desde meados de 1913 foram sendo distribuídos como marcas
obliteradoras de recurso a estações postais que não possuíam as suas próprias marcas
de dia, cabe agora a vez de se escrever sobre a atribuição do carimbo e sinete
de lacre n.º 3.
De
acordo com a Ordem de Serviço n.º 285 de 5 de Agosto de 1913 da Repartição
Superior dos Correios de Angola o carimbo e respectivo sinete de lacre foram
atribuídos à estação postal de 3,ª classe em Capelongo no Distrito de Huíla.
A
estação postal foi criada pela Portaria Provincial n.º 414 de 18 de Maio de
1910, autorizada pelo então Governador-Geral José Augusto Alves Roçadas,
desempenhando o serviço de correspondências ordinárias e registadas, assim como
a venda de selos postais e demais fórmulas de franquia. A estação postal estava
a cargo do chefe da estação telegráfica do Capelongo. No período decorrido
entre a criação da estação postal (18.05.1910) e a atribuição do carimbo
numérico (05.08.1913) não é conhecida nenhuma outra marca obliteradora, e
provavelmente as correspondências seriam obliteradas a manuscrito. Também não
se conhecem exemplares manuscritos, o que se entende pois na época o movimento
de correspondências seria muito diminuto.
Capelongo
nasce com a criação, pela Portaria n.º 484 de 13 de Novembro de 1903, publicada
no Boletim Oficial de Angola n.º 46, do Posto Militar com o mesmo nome, com a
finalidade de proceder à fiscalização e vigilância e ainda para protecção das carreteiras
obstando a que continuassem os desmandos perpetrados pelos cuanhamas, ao longo
do vale do Cunene.
Em
12 de Dezembro de 1917 pela Portaria n.º 210 é criada a Capitania do Alto
Cunene com sede em Mulondo compreendendo também o Posto de Capelongo. Porém em
1918 a referida sede da Capitania passou para o Posto de Capelongo. Em 1921 o
Posto deixa de ter cariz militar e passa a civil de acordo com o Decreto n.º 31
do Alto Comissariado. Em 1932 é extinta a Capitania do Alto Cunene e Capelongo
passa a pertencer à Circunscrição Civil da Chibia. Em 1934 pelo Decreto-Lei n.º
317 é restabelecida a Circunscrição do Alto Cunene para onde transitou o Posto
de Capelongo, Mulondo e Quipungo. A povoação de Capelongo foi elevada, em 1954,
à categoria de Vila com o nome de Vila Folgares por Portaria n.º 8580 publicada
no Boletim Oficial n.º 24.
Capelongo - Travessia de gado no Cunene |
Capelongo
evoluiu de um simples posto militar para uma Vila em cerca de 50 anos de vida.
Em 1954 quando é levada à categoria de Vila tinha 6 casas comerciais e mais 25
na área do posto. Quando da criação em 1954 do Colonato Europeu do Cunene,
Capelongo, ou seja Vila de Folgares, recebeu 40 famílias de colonos, o maior
dos contingentes que foram distribuídos pela região, de onde se destacaram os
da Aldeia da Matala com 32 famílias, Aldeia da Castanheira de Pêra com 7,
Aldeia de Algés a Nova com 21, Aldeia do Freixiel com 38. As famílias que
integraram este projecto eram oriundas do Norte de Portugal, Açores e Madeira. Foi
ainda construído um canal de rega que partindo da Matala iria irrigar os
terrenos distribuídos aos colonos das diferentes aldeias, facilitando assim o
desenvolvimento de um projecto agrícola.
Capelongo - Plantação de tabaco |
As
aldeias estavam devidamente instaladas, com fornecimento de água canalizada,
casas de habitação condignas, capela e clube, e nos terrenos atribuídos
empregavam-se tractores. Para além da agricultura dedicavam-se à criação de
gado. A base das culturas é a produção do trigo e tabaco, tendo-se construído
na região uma fábrica de beneficiação de tabaco, alavancando assim a produção
dos colonatos. A instalação do colonato foi o motor que impulsionou a povoação,
pois a restante população era diminuta.
Antes
da criação da estação postal de 3.ª classe, Capelongo tinha um encarregado de
correio que recebia, expedia e distribuía o correio. Numa primeira fase em 1910
o comandante do Posto Militar instalado no Forte de Capelongo mandava buscar e
levar o correio à Chibia, que por sua vez estava ligada pela carreira Humbe-
Cuamato. Nesta época uma carta de Moçamedes a Capelongo demorava cerca de 36
dias a ser entregue.
Carro de luxo para viagens no mato e transporte de correio (1911) |
O
transporte das cartas era feito por carregadores, que para além das grandes
distâncias que tinham de percorrer e da má qualidade das malas, feitas de uma
linhagem transparente, na época da chuva estavam sujeitas a grande
deterioração. Muitas vezes os envelopes e cintas estavam tão desfeitos, que na
estação de destino era necessário ver-se o conteúdo para se saber a quem eram
destinadas.
Entretanto
por acção de João de Almeida, Governador da Huíla, o transporte de
correspondências foi significativamente melhorado com a introdução de carros
Lefevre, ou carroças alentejanas, e criada uma linha de transporte de correspondência
e passageiros que partia do Forno da Cal ao Lubango e daqui para o Cunene. Foi
ainda montada uma carreira postal que partindo da Chibia se prolongava até
Capelongo.
Carta remetida de Capelongo (15.07.35)
para Vila Nova de Fozcôa (20.08.35) com trânsito por Silva Porto (18.07.35)
franquiada com $80, correspondente ao primeiro porte do correio ordinário para
Portugal, para cartas com um peso até 20gr (Decreto 20.317 de 14.09.1931).
Selos obliterados com carimbo numérico volante n.º 3
Com
o desenvolvimento entretanto registado, novas vias de comunicação foram sendo
construídas e a partir de finais da década de 20 uma parte significativa do
correio de Capelongo era encaminhado para Silva Porto e daqui para o seu
destino pela via ferroviária do Caminho de Ferro de Benguela.
Como
podemos constatar pela carta apresentada, este foi mais um dos carimbos volantes que de
provisório nada teve. Atribuído à estação postal em 1913, vinte e dois anos
depois ainda se encontrava em uso na estação, nem se conhece qualquer
marca de dia com o topónimo Capelongo. Este carimbo raramente aparece a obliterar selos ou correspondências. É dos mais raros carimbos numéricos volantes. O primeiro carimbo conhecido atribuído à
estação postal aparece já com o topónimo “VILA DE FOLGARES”, nome atribuído a
Capelongo em 1954 quando da instalação do Colonato Europeu do Cunene.
Bibliografia
·
Índice Histórico Corográfico de Angola de José Milheiros,
1972, IICA
·
Sul de Angola, Relatório de um Governo de Distrito
(1908-1910), João de Almeida, 1936
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