quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Carimbos numéricos volantes (03) * Capelongo / Vila de Folgares

Forte do Capelongo (1907)
            Na linha do estudo individualizado que se vem fazendo dos carimbos numéricos volantes, que desde meados de 1913 foram sendo distribuídos como marcas obliteradoras de recurso a estações postais que não possuíam as suas próprias marcas de dia, cabe agora a vez de se escrever sobre a atribuição do carimbo e sinete de lacre n.º 3.
            De acordo com a Ordem de Serviço n.º 285 de 5 de Agosto de 1913 da Repartição Superior dos Correios de Angola o carimbo e respectivo sinete de lacre foram atribuídos à estação postal de 3,ª classe em Capelongo no Distrito de Huíla.
            A estação postal foi criada pela Portaria Provincial n.º 414 de 18 de Maio de 1910, autorizada pelo então Governador-Geral José Augusto Alves Roçadas, desempenhando o serviço de correspondências ordinárias e registadas, assim como a venda de selos postais e demais fórmulas de franquia. A estação postal estava a cargo do chefe da estação telegráfica do Capelongo. No período decorrido entre a criação da estação postal (18.05.1910) e a atribuição do carimbo numérico (05.08.1913) não é conhecida nenhuma outra marca obliteradora, e provavelmente as correspondências seriam obliteradas a manuscrito. Também não se conhecem exemplares manuscritos, o que se entende pois na época o movimento de correspondências seria muito diminuto.
            Capelongo nasce com a criação, pela Portaria n.º 484 de 13 de Novembro de 1903, publicada no Boletim Oficial de Angola n.º 46, do Posto Militar com o mesmo nome, com a finalidade de proceder à fiscalização e vigilância e ainda para protecção das carreteiras obstando a que continuassem os desmandos perpetrados pelos cuanhamas, ao longo do vale do Cunene.
            Em 12 de Dezembro de 1917 pela Portaria n.º 210 é criada a Capitania do Alto Cunene com sede em Mulondo compreendendo também o Posto de Capelongo. Porém em 1918 a referida sede da Capitania passou para o Posto de Capelongo. Em 1921 o Posto deixa de ter cariz militar e passa a civil de acordo com o Decreto n.º 31 do Alto Comissariado. Em 1932 é extinta a Capitania do Alto Cunene e Capelongo passa a pertencer à Circunscrição Civil da Chibia. Em 1934 pelo Decreto-Lei n.º 317 é restabelecida a Circunscrição do Alto Cunene para onde transitou o Posto de Capelongo, Mulondo e Quipungo. A povoação de Capelongo foi elevada, em 1954, à categoria de Vila com o nome de Vila Folgares por Portaria n.º 8580 publicada no Boletim Oficial n.º 24.
Capelongo - Travessia de gado no Cunene
            Capelongo evoluiu de um simples posto militar para uma Vila em cerca de 50 anos de vida. Em 1954 quando é levada à categoria de Vila tinha 6 casas comerciais e mais 25 na área do posto. Quando da criação em 1954 do Colonato Europeu do Cunene, Capelongo, ou seja Vila de Folgares, recebeu 40 famílias de colonos, o maior dos contingentes que foram distribuídos pela região, de onde se destacaram os da Aldeia da Matala com 32 famílias, Aldeia da Castanheira de Pêra com 7, Aldeia de Algés a Nova com 21, Aldeia do Freixiel com 38. As famílias que integraram este projecto eram oriundas do Norte de Portugal, Açores e Madeira. Foi ainda construído um canal de rega que partindo da Matala iria irrigar os terrenos distribuídos aos colonos das diferentes aldeias, facilitando assim o desenvolvimento de um projecto agrícola.
Capelongo - Plantação de tabaco
            As aldeias estavam devidamente instaladas, com fornecimento de água canalizada, casas de habitação condignas, capela e clube, e nos terrenos atribuídos empregavam-se tractores. Para além da agricultura dedicavam-se à criação de gado. A base das culturas é a produção do trigo e tabaco, tendo-se construído na região uma fábrica de beneficiação de tabaco, alavancando assim a produção dos colonatos. A instalação do colonato foi o motor que impulsionou a povoação, pois a restante população era diminuta.
            Antes da criação da estação postal de 3.ª classe, Capelongo tinha um encarregado de correio que recebia, expedia e distribuía o correio. Numa primeira fase em 1910 o comandante do Posto Militar instalado no Forte de Capelongo mandava buscar e levar o correio à Chibia, que por sua vez estava ligada pela carreira Humbe- Cuamato. Nesta época uma carta de Moçamedes a Capelongo demorava cerca de 36 dias a ser entregue.
Carro de luxo para viagens no mato e transporte de correio (1911)
            O transporte das cartas era feito por carregadores, que para além das grandes distâncias que tinham de percorrer e da má qualidade das malas, feitas de uma linhagem transparente, na época da chuva estavam sujeitas a grande deterioração. Muitas vezes os envelopes e cintas estavam tão desfeitos, que na estação de destino era necessário ver-se o conteúdo para se saber a quem eram destinadas.
            Entretanto por acção de João de Almeida, Governador da Huíla, o transporte de correspondências foi significativamente melhorado com a introdução de carros Lefevre, ou carroças alentejanas, e criada uma linha de transporte de correspondência e passageiros que partia do Forno da Cal ao Lubango e daqui para o Cunene. Foi ainda montada uma carreira postal que partindo da Chibia se prolongava até Capelongo.

 
Carta remetida de Capelongo (15.07.35) para Vila Nova de Fozcôa (20.08.35) com trânsito por Silva Porto (18.07.35) franquiada com $80, correspondente ao primeiro porte do correio ordinário para Portugal, para cartas com um peso até 20gr (Decreto 20.317 de 14.09.1931). Selos obliterados com carimbo numérico volante n.º 3

            Com o desenvolvimento entretanto registado, novas vias de comunicação foram sendo construídas e a partir de finais da década de 20 uma parte significativa do correio de Capelongo era encaminhado para Silva Porto e daqui para o seu destino pela via ferroviária do Caminho de Ferro de Benguela.
            Como podemos constatar pela carta apresentada, este foi mais um dos carimbos volantes que de provisório nada teve. Atribuído à estação postal em 1913, vinte e dois anos depois ainda se encontrava em uso na estação, nem se conhece qualquer marca de dia com o topónimo Capelongo. Este carimbo raramente aparece a obliterar selos ou correspondências. É dos mais raros carimbos numéricos volantes. O primeiro carimbo conhecido atribuído à estação postal aparece já com o topónimo “VILA DE FOLGARES”, nome atribuído a Capelongo em 1954 quando da instalação do Colonato Europeu do Cunene.

  

Bibliografia
·         Índice Histórico Corográfico de Angola de José Milheiros, 1972, IICA
·         Sul de Angola, Relatório de um Governo de Distrito (1908-1910), João de Almeida, 1936

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