Vista geral de Porto Amboim |
Neste ligeiro artigo vou referir-me a mais um dos carimbos
numéricos volantes, este com o número “39”,
que serviram como marcas de recurso em estações postais recém-criadas ou em
estações que por qualquer razão não pudessem utilizar as suas marcas de dia.
Conforme artigo intitulado “Carimbos numéricos volantes (00) * Introdução”
editado neste blog, este carimbo pertence ao tipo 3, cuja tipologia é comum aos
carimbos numéricos números 31 ao 40.
Mais uma vez recordo que estes carimbos de acordo
com o fim específico para o qual foram criados, deveriam ter uma permanência
curta nas estações a que fossem atribuídos, porém este carimbo que agora
apresento é um dos muitos que permaneceram por longos períodos nas estações
postais.
O carimbo foi atribuído à estação postal de
Benguela-Velha pela Ordem de Serviço n.º 97 de 23 de Março de 1917 da
Repartição Superior dos Correios de Angola, que abaixo reproduzimos.
A estação postal de Benguela-Velha
foi criada pela Portaria Provincial n.º 782 de 3 de Setembro de 1910, assinada
pelo então Governador-Geral José Augusto Alves Roçadas. A estação postal tinha
a categoria de 3.ª classe e ficou a cargo do regedor da povoação.
Por Portaria n.º 148 de 18 de Maio
de 1920, e porque tendo sido entretanto criado o concelho de Benguela-Velha, a
respectiva estação postal foi elevada à categoria de 2.ª classe, e como
principiou também a prestar serviço telegráfico passou a denominar-se Estação
Telégrafo-Postal de Benguela-Velha
Pelo Decreto n.º 352 de 10 de
Setembro de 1923, publicado no Boletim Oficial n.º 38 a povoação de
Benguela-Velha foi elevada à categoria de Vila e alterou o seu nome para Porto
Amboim, assim como o concelho de Benguela-Velha também foi rebaptizado em
Concelho de Porto Amboim.
Conforme referimos Benguela-Velha foi o nome
primitivo de uma localidade a que foi atribuído o nome de Porto Amboim. Nesse
local existia uma aldeia chamada Kissonde, integrando uma região que os
portugueses tentaram colonizar por volta do ano de 1587 fundando aí uma
povoação a que foi dado o nome de Benguela. Esta povoação foi mais tarde
abandonada e reconstruída mais a sul onde hoje está localizada a actual cidade
de Benguela. Cerca do ano de 1771 os portugueses voltaram ao local primitivo e reergueram
a antiga povoação atribuindo-se-lhe o nome de Benguela-Velha e conforme
afirmamos passou a denominar-se Porto Amboim em 1923 com a categoria de vila.
Em 15 de Janeiro de 1974 foi elevada à categoria de cidade.
Porto Amboim era uma importante localidade, testa
do Caminho de Ferro do Amboim que a ligava à Gabela e por onde eram escoados os
produtos região, especialmente o café, produzido por três grandes empresas (CADA,
Marques Seixas e Mário Cunha), uma das mais importantes fontes de riqueza na região.
A passagem para o planalto a caminho da Gabela era
feita muito lentamente através de “lacetes” (oitos quase fechados). Para
viagens mais rápidas entre Porto Amboim e a Gabela os passageiros alugavam
automóveis de linha a que chamavam “Grazine”. A linha telegráfica entre Porto
Amboim e a Gabela era também assegurada pela Companhia do Amboim. A linha
ferroviária também facilitava a troca de correspondências de estação a estação
pelos dos condutores dos comboios, conforme podemos apreciar pela imagem que
reproduzimos abaixo.
Carimbo ferroviário PORTO AMBOIM |
Bilhete do CFA com carimbo ferroviário QUIRIMBO |
Tinha também um porto marítimo que ajudava a drenar
a rica produção da região.
Voltando ao serviço de correio da estação postal de
Benguela-Velha / Porto Amboim, direi que não são conhecidas marcas
obliteradoras desde a sua criação em 1910 até à distribuição do carimbo
numérico volante. Provavelmente as obliterações das correspondências seriam
manuscritas, como acontecia em algumas estações postais, privadas de marcas de
dia próprias. Durante cerca de 22 anos a estação vai utilizar esta marca para
obliterar a correspondência (Figuras 1 e 2).
Figura 1 - Carta
circulada registada de Benguela-Velha / Porto Amboim (07.07.28) para Mulda / Alemanha (13.08.28) com trânsito
por Lisboa (08.08.28) e Freiberg (12.08.28) com a franquia de 2$40 correspondente
a: 1$60 pelo primeiro porte (cartas com peso até 20gr) para o estrangeiro + $80
prémio de registo. Registo manuscrito. Selos obliterados com carimbo numérico
volante n.º 39.
Figura 2 – Carta circulada de
Moçamedes para Novo Redondo (22.12.1929) com trânsito por Benguela Velha /
Porto Amboim (20.12.1929) com a franquia de $50 correspondente ao primeiro
porte para cartas até 20gr circuladas na Província (Portaria Provincial nº 70
de 12.07.1926, publicada no Boletim Oficial de Angola nº 26 de 17.07.1926)
Finalmente a
partir de meados de 1938 ou 1939 foi distribuído um carimbo com topónimo
específico da estação postal, do tipo que podemos apreciar na figura abaixo.
Figura
3 – Carta circulada de Porto Amboim (09.01.1948) para Goteborg / Suécia com trânsito
por Lisboa (16.01.1948). Pagou de franquia 1$75 pelo primeiro porte para cartas
destinadas ao estrangeiro (peso até 20gr) + sobretaxa de correio aéreo de 5$00
pelo primeiro porte (peso até 5gr) para países da Europa (selo fixo de
recurso).
Não garanto que durante o período que medeia o ano
da criação da estação postal até à utilização da marca reproduzida na figura 3
não possa ter existido outro tipo de marca obliteradora, porém eu nunca tive
conhecimento da existência de tal marca.
Bibliografia
·
Milheiros, 1972 - Índice
Histórico-Corográfico de Angola, IICA
·
Anuário de Angola, 1923
·
Dicionário Corográfico Comercial de
Angola, Antonito, 2.ª edição 1948
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