Chitembo |
Em meados de 1913 a Repartição
Superior dos Correios de Angola adquiriu os primeiros 20 carimbos numéricos
volantes para serem distribuídos às estações postais que careciam de marca de
dia para obliterar as correspondências expedidas e recebidas. Juntamente com
cada carimbo era também distribuído um sinete para o lacre, também numérico.
Em 24 de Abril de 1913 pela Portaria Provincial n.º
419 foi criada no posto civil de Cachingues uma estação postal de 3.ª classe
com serviços de recepção e expedição de correspondências ordinárias e
registadas e de venda de selos e demais formas de franquia.
Pela Ordem de Serviço n.º 301 de 23
de Agosto de 1913, daquela Repartição, foi atribuído o carimbo n.º 7 assim como
o respectivo lacre à recém-criada estação de Cachingues, que abaixo se
reproduz.
Cachingues era um antigo posto
civil, da Circunscrição Civil do Bié, tendo sido transformado em Posto Militar,
por Portaria Provincial de 1 de Setembro de 1915, voltando a posto civil,
poucos meses depois, por Portaria de 14.12.1915. Ainda por Portaria n.º 87 de
08.06.1917 foram-lhe fixados os limites. Em 1922, foi criada a Circunscrição de
Cachingues que entretanto em 1925 passou para a povoação do Chitembo, voltando Cachingues
a ser um posto civil.
Cachingues distava de Chitembo cerca
de 36 kms e de Silva Porto, o maior centro populacional mais próximo, cerca de
106 kms. Era uma pequena localidade com uma economia débil e com pouca
população. Em 1959 apenas existiam na povoação 4 casas comerciais e 19 em toda
a área do posto. A 25 kms da localidade estava localizada a Missão Católica de
Nossa Senhora do Rosário.
Pelo que é perceptível, esta
localidade angolana, atendendo à diminuta população letrada que aí habitava, não
tinha um grande movimento de correspondências postais, pelo que não encontramos
ainda qualquer carta, simples selos ou outro objecto postal obliterados com o
carimbo volante, no período em que esteve em uso aquele carimbo.
Entretanto por Portaria Provincial
n.º 50 de 01.03.1923, o então Alto-Comissário da República em Angola, José
Mendes Ribeiro Norton de Matos, autoriza a criação de uma estação postal de 3.ª
classe na povoação de Chitembo que distava a cerca de 36 kms de Cachingues.
A estação postal não foi logo
instalada por razões que não foi possível apurar. A sua abertura apenas veio a
tornar-se realidade cerca de um ano depois com a publicação da Portaria
Provincial n.º 39 de 26 de Março de 1924. É provável que durante este hiato de
tempo, houvesse necessidade de se construir ou proceder a obras de remodelação
em algum edifício para nele ser instalada a referida estação postal
Com a abertura da estação postal em
Chitembo encerrou-se a estação postal em Cachingues tendo o carimbo numérico
volante n.º 7 transitado desta para aquela estação postal.
Chitembo começou por ser um posto
militar criado por Portaria Provincial de 05.08.1914 (Boletim Oficial n.º 32).
A sua grafia inicial era Xitembo porém acabou por evoluir para Chitembo. Era
uma região que desfrutava de um bom clima e de um solo medianamente fértil, que
propiciaram um rápido crescimento populacional. Em 1959 a povoação tinha 6
casas comerciais e na área da circunscrição 45. A economia da região girava em
torno da agricultura e da comercialização de produtos consumo corrente com eram
o milho, trigo, feijão, rícino, massangano, batata doce, cera, etc. As unidades
agrícolas e comerciais empregavam cerca de 2.000 trabalhadores. Para além da
Missão Católica já assinalada junto de Cachingues, existia também uma Missão
Protestante na Catota a cerca de 90 kms de Chitembo.
É a partir do momento que o carimbo
numérico volante passa para a estação postal do Chitembo que começam a aparecer
selos e cartas obliterados com ele. Inexplicavelmente esta marca de dia vai
estar ao serviço da estação postal durante muitos anos como veremos adiante.
Dos primeiros anos de utilização na estação postal do Chitembo são conhecidos
apenas alguns selos datados de 1928 batidos na cor violeta.
Datada, cerca de dez anos depois,
possuo uma carta circulada registada de Chitembo (24.03.38) para Lisboa
(27.04.38) com trânsito por Silva Porto. Franquiada com 1$20 correspondente a: $80
pelo primeiro porte (peso até 15gr) para cartas circuladas para Portugal e $40
pelo prémio de registo (Decreto 20.317 de 14.09.31). Nesta data o carimbo
numérico volante aparece batido a preto.
Possuo outra carta datada de
10.08.45 com destino aos EUA com trânsito por Silva Porto (15.08.45) e
Elizabethville (22.08.45). Está franquiada com um selo de 1$75 correspondente
ao primeiro porte (peso até 15 gr) para cartas remetidas para o estrangeiro (Decreto
23.455 de 12.01.1934). A carta foi encaminhada por via ferroviária através da
África do Sul onde foi censurada em Johannesbourg com cinta tipo 2C e carimbo
tipo 8A (Litte, 2000). Nesta carta o carimbo ainda aparece batido a preto e em
uso na estação postal.
Por fim uma outra carta remetida da
Catota * Chitembo (22.05.49), provavelmente por alguém a residir na Missão
Protestante, para os EUA com trânsito por Silva Porto (23.05.49) e Luanda
(24.05.49). Carta circulada por via aérea de Silva Porto para Luanda pela DTA e
de Luanda para Lisboa pela Linha Aérea Imperial. Pagou de porte 6 Ags
correspondente ao 1.º porte aéreo para os EUA (cartas com o peso até 5 gr).
Agora o carimbo aparece batido a azul.
Desde a longínqua data da abertura
da estação postal (1924), até à data de circulação desta última carta (1949),
decorreram 25 anos, um longo período em que este carimbo esteve ao seu serviço.
Não conheço outros carimbos desta estação durante esse período. Provavelmente
só na reforma das marcas postais de 1959 poderá esta estação ter sido
contemplada com uma marca de dia com o seu topónimo. Porém nunca vi essa marca.
Bibliografia
·
Boletim Oficial de Angola
·
Boletim dos Correios de Angola –
N.º 8 e 9, Agosto / Setembro 1913
·
Dicionário Corográfico Comercial de
Angola – Antonito, 4.ª edição 1959
·
Índice Histórico-Corográfico de
Angola – Mário Milheiros, Luanda, 1972
·
British Empire Civil Censorship Devices World
War II / Colonies and Occupied Territories in África, John Little, 2000
Obrigado, Elder por continuares a divulgar a História Postal de Angola.
ResponderEliminarUm abraço para ti.