quarta-feira, 18 de julho de 2012

Carimbos numéricos volantes (26) * Cidade Alta / Caculo Cahenda


Estação ferroviária Cidade Alta
            Regresso com mais um apontamento sobre os carimbos e sinetes numéricos volantes criados por Ordem de Serviço n.º 284 de 05.08.1913, da Repartição Superior dos Correios de Angola. Estes carimbos destinavam a servir como obliteradores nas estações que ainda não estivessem dotadas de marca de dia própria. Vou pois referir-me ao carimbo numérico volante n.º 26.
            O carimbo e sinete foram atribuídos por Ordem de Serviço n.º 1 de 3 de Janeiro de 1916 à estação postal da Cidade Alta em Luanda, conforme extracto reproduzido abaixo, destacado do Boletim dos Correios de Angola.
            No início do século XX a cidade de Luanda teve um crescimento urbano significativo. Depois de uma ocupação intensiva da chamada baixa, a cidade começou a expandir-se rapidamente para além das “barrocas”. O aglomerado populacional na nova área urbana foi crescendo e urgia tomar medidas para que os serviços essenciais a essa população fossem supridos.
Selos obliterados com carimbo numérico 26 em uso na estação Cidade Alta 
            Um dos serviços porque vinham reclamando sucessivamente os cidadão da “zona alta” da cidade era o prestado pelos correios.
            Para além da estação central, a cidade de Luanda tinha uma outra estação de correios na Ilha, que distava pouco mais de 1 km em terreno plano daquela. A fraca implantação populacional não justificava de todo a manutenção desta estação naquele local. Era este um dos argumentos que os moradores da “zona alta” esgrimiam, e que lhes assistia toda a razão.
            Finalmente em finais de 1915 as entidades administrativas de Angola reconhecem as queixas que vinham sendo apresentadas e determinam em primeiro lugar o fecho da estação postal da Ilha por Portaria n.º 898 de 16 de Setembro de 1915, publicada no Boletim Oficial de Angola n.º 38 de 18.09.15.
            A partir do encerramento desta estação, que atendendo ao seu reduzido movimento e rendimento não se justificava o seu funcionamento, iniciaram-se os preparativos para a abertura de uma nova estação postal na “zona alta” da cidade.
            Finalmente os anseios dos moradores dessa zona foram concretizados com a criação da estação postal de 1.ª classe, por portaria n.º 1170 de 30 de Novembro de 1915, publicada no Boletim Oficial de Angola n.º 49 de 04.12.15 (figura abaixo).
A estação denominava-se “Estação Postal da Cidade Alta” e deveria entrar em funcionamento a partir de 1 de Janeiro de 1916 e prestaria todos os serviços inerentes à sua categoria.
            Pela rápida decisão na abertura da estação, não houve tempo suficiente para que se providenciasse o fabrico das respectivos carimbos e sinetes apropriados, pelo que houve necessidade de se recorrer, nos primeiros meses de funcionamento da estação, aos denominados carimbos numéricos volantes.
            Rapidamente foram fornecidos os carimbos definitivos à estação postal pelo que cerca de nove meses depois, mais precisamente em 13 de Setembro de 1916 o carimbo e sinete n.º 26 foram retirados a esta estação e atribuídos à estação postal de Caculo Caenda, conforme Ordem de Serviço n.º 261 da Repartição Superior dos Correios que a seguir se reproduz.
            A estação postal de Caculo Cahenda foi criada pela Portaria n.º 81 de 18 de Janeiro de 1912 e ficou instalada no forte daquela localidade onde estava instalada uma guarnição militar. A chefia da recém-criada estação postal foi entregue ao comandante militar do forte. Não se conhece qualquer marca postal nesta estação desde a sua criação até à data da atribuição do carimbo numérico. É muito provável que durante esse tempo se tivesse optado por obliterações manuscritas, que nunca tivemos a oportunidade de ver em alguma carta ou selo.
            Em tempos remotos esta localidade foi sede de uma grande e destemida Divisão de empacasseiros que eram utilizados para as guerras de conquista e ocupação de territórios. Eram guerreiros valorosos sob a direcção dos seus chefes naturais e tinham como fim de combate a pilhagem em detrimento da conquista de territórios. Distinguiam-se dos chamados Empacasseiros da Guerra Preta, estes mais organizados e sob a direcção dos seus oficiais, quase exclusivamente de raça negra, havendo “sobas” com patentes elevadas desde capitães a coronéis. Muitas vezes estes pequenos exércitos eram valiosos aliados das forças portuguesas nas guerras de ocupação.
Forte Caculo Cahenda
            Nesta localidade existia o Forte de Caculo Cahenda, construído sobre uma colina, circundado por um profundo fosso, tendo apenas acesso por uma pequena entrada.
            Caculo Cahenda foi uma Capitania-Mor, cuja sede passou para Quibaxe por Portaria Provincial n.º 125 de 28.04.1920.
            Caculo Cahenda foi perdendo preponderância na região e mercê do desenvolvimento da vizinha povoação de Quibaxe viu ser transferida a sua estação postal para esta localidade em 17 de Dezembro de 1920 de acordo com a Portaria n.º 423-G
            Nestas situações o carimbo numérico volante normalmente acompanha a mudança do local da estação, pelo que pode-se quase garantir, embora não se tenha encontrado documentação que o comprove, que assim tivesse acontecido. Porém nunca vimos qualquer carta ou selo obliterado com o carimbo n.º 26 posterior a esta data de 17.12.1920.
Carta remetida de Caculo Cahenda (20.07.18) para Barcelos (03.09.18) com trânsito pela ambulância II do CFL (25.07.18) e
Luanda (25.07.18). Pagou de franquia 3 1/2 c correspondente ao primeiro porte (peso até 20 gr) para cartas circuladas para
o Continente. Foi utilizado indevidamente um selo de 1/2 c de Portugal para completar o porte. Carta remetida por
António Joaquim Gonçalves, Alferes de Infantaria, destacado na guarnição do Forte Caculo Cahenda
           

Bibliografia
·          Boletim dos Correios de Angola
·          Boletim Oficial de Angola
·          Índice Histórico-Corográfico de Angola de Mário Milheiros, IICA, 1972

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