Estação ferroviária Cidade Alta |
Regresso com mais um apontamento
sobre os carimbos e sinetes numéricos volantes criados por Ordem de Serviço n.º
284 de 05.08.1913, da Repartição Superior dos Correios de Angola. Estes carimbos
destinavam a servir como obliteradores nas estações que ainda não estivessem dotadas
de marca de dia própria. Vou pois referir-me ao carimbo numérico volante n.º
26.
O carimbo e sinete foram atribuídos
por Ordem de Serviço n.º 1 de 3 de Janeiro de 1916 à estação postal da Cidade
Alta em Luanda, conforme extracto reproduzido abaixo, destacado do Boletim dos
Correios de Angola.
No início do século XX a cidade de
Luanda teve um crescimento urbano significativo. Depois de uma ocupação intensiva
da chamada baixa, a cidade começou a expandir-se rapidamente para além das
“barrocas”. O aglomerado populacional na nova área urbana foi crescendo e urgia
tomar medidas para que os serviços essenciais a essa população fossem supridos.
Selos obliterados com carimbo numérico 26 em uso na estação Cidade Alta
Um dos serviços porque vinham reclamando
sucessivamente os cidadão da “zona alta” da cidade era o prestado pelos
correios.
Para além da estação central, a
cidade de Luanda tinha uma outra estação de correios na Ilha, que distava pouco
mais de 1 km em terreno plano daquela. A fraca implantação populacional não
justificava de todo a manutenção desta estação naquele local. Era este um dos
argumentos que os moradores da “zona alta” esgrimiam, e que lhes assistia toda
a razão.
Finalmente em finais de 1915 as
entidades administrativas de Angola reconhecem as queixas que vinham sendo
apresentadas e determinam em primeiro lugar o fecho da estação postal da Ilha
por Portaria n.º 898 de 16 de Setembro de 1915, publicada no Boletim Oficial de
Angola n.º 38 de 18.09.15.
A partir do encerramento desta
estação, que atendendo ao seu reduzido movimento e rendimento não se
justificava o seu funcionamento, iniciaram-se os preparativos para a abertura
de uma nova estação postal na “zona alta” da cidade.
Finalmente os anseios dos moradores
dessa zona foram concretizados com a criação da estação postal de 1.ª classe,
por portaria n.º 1170 de 30 de Novembro de 1915, publicada no Boletim Oficial
de Angola n.º 49 de 04.12.15 (figura abaixo).
A estação denominava-se “Estação Postal da Cidade
Alta” e deveria entrar em funcionamento a partir de 1 de Janeiro de 1916 e
prestaria todos os serviços inerentes à sua categoria.
Pela rápida decisão na abertura da
estação, não houve tempo suficiente para que se providenciasse o fabrico das
respectivos carimbos e sinetes apropriados, pelo que houve necessidade de se
recorrer, nos primeiros meses de funcionamento da estação, aos denominados
carimbos numéricos volantes.
Rapidamente foram fornecidos os
carimbos definitivos à estação postal pelo que cerca de nove meses depois, mais
precisamente em 13 de Setembro de 1916 o carimbo e sinete n.º 26 foram
retirados a esta estação e atribuídos à estação postal de Caculo Caenda,
conforme Ordem de Serviço n.º 261 da Repartição Superior dos Correios que a
seguir se reproduz.
A estação postal de Caculo Cahenda
foi criada pela Portaria n.º 81 de 18 de Janeiro de 1912 e ficou instalada no
forte daquela localidade onde estava instalada uma guarnição militar. A chefia
da recém-criada estação postal foi entregue ao comandante militar do forte. Não
se conhece qualquer marca postal nesta estação desde a sua criação até à data
da atribuição do carimbo numérico. É muito provável que durante esse tempo se
tivesse optado por obliterações manuscritas, que nunca tivemos a oportunidade
de ver em alguma carta ou selo.
Em tempos remotos esta localidade
foi sede de uma grande e destemida Divisão de empacasseiros que eram utilizados
para as guerras de conquista e ocupação de territórios. Eram guerreiros
valorosos sob a direcção dos seus chefes naturais e tinham como fim de combate
a pilhagem em detrimento da conquista de territórios. Distinguiam-se dos
chamados Empacasseiros da Guerra Preta, estes mais organizados e sob a direcção
dos seus oficiais, quase exclusivamente de raça negra, havendo “sobas” com
patentes elevadas desde capitães a coronéis. Muitas vezes estes pequenos
exércitos eram valiosos aliados das forças portuguesas nas guerras de ocupação.
Forte Caculo Cahenda |
Nesta localidade existia o Forte de
Caculo Cahenda, construído sobre uma colina, circundado por um profundo fosso,
tendo apenas acesso por uma pequena entrada.
Caculo Cahenda foi uma
Capitania-Mor, cuja sede passou para Quibaxe por Portaria Provincial n.º 125 de
28.04.1920.
Caculo Cahenda foi perdendo
preponderância na região e mercê do desenvolvimento da vizinha povoação de
Quibaxe viu ser transferida a sua estação postal para esta localidade em 17 de
Dezembro de 1920 de acordo com a Portaria n.º 423-G
Nestas situações o carimbo numérico
volante normalmente acompanha a mudança do local da estação, pelo que pode-se
quase garantir, embora não se tenha encontrado documentação que o comprove, que
assim tivesse acontecido. Porém nunca vimos qualquer carta ou selo obliterado
com o carimbo n.º 26 posterior a esta data de 17.12.1920.
Carta remetida de Caculo Cahenda (20.07.18) para Barcelos (03.09.18) com trânsito pela ambulância II do CFL (25.07.18) e
Luanda (25.07.18). Pagou de franquia 3 1/2 c correspondente ao primeiro porte (peso até 20 gr) para cartas circuladas para
o Continente. Foi utilizado indevidamente um selo de 1/2 c de Portugal para completar o porte. Carta remetida por
António Joaquim Gonçalves, Alferes de Infantaria, destacado na guarnição do Forte Caculo Cahenda
Bibliografia
·
Boletim dos Correios de Angola
·
Boletim Oficial de Angola
·
Índice Histórico-Corográfico de
Angola de Mário Milheiros, IICA, 1972
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