segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Sobrecargas do Centenário de S. António sobre selos de Lourenço Marques

            Não é minha intenção fazer aqui um estudo sobre a emissão destes selos, mas apenas abordar a velha “estória” das sobrecargas falsas ou clandestinas. Sempre ouvi dizer que as sobrecargas se distinguiam pelo formato do ponto sequente à letra “L”, da abreviatura de Lourenço.
Santo António de Lisboa pregando aos peixes
            Não sendo coleccionador de selos de Moçambique e seus Distritos Postais, com excepção de uma passagem furtuita pelas Companhias Majestáticas, nunca me dediquei sobre o assunto, mas via invariavelmente muitos filatelistas preocupados em saber do formato do ponto.
            Entretanto nas minhas funções de coordenador dos leilões do Clube Filatélico de Portugal acabei por ter que entrar na matéria. Tendo-me passado pelas mãos bastantes selos dessa emissão comecei a reparar que invariavelmente apareciam selos com pontos quadrados, redondos, semi-quadrados, grandes e pequenos em sobrecargas que tinham todo o aspecto de serem originais. E ia fazendo sempre a mesma interrogação “qual foi o critério para se atribuir os rótulos de genuíno ou falso?”. Parecia-me que a “estória” estava mal contada e fazia-me lembrar uma piada que há anos ouvi algures: três mulheres, uma ruiva, outra morena e ainda uma loira encontram um gato/a e procuram perceber qual o sexo do animal. Para a ruiva era um gato e para a morena era uma gata. Perante o impasse, a loira na sua candura, propõe-se resolver o problema e diz: é fácil saber minhas amigas, se o atirarem ali ao lago logo vêm. Se ficar molhado é gato e se ficar molhada é gata.
            Parece-me ser esta a “estória” destes selos. Alguém resolveu dizer que as sobrecargas de pontos quadrados são originais e as de pontos redondos as falsas.
            Tenho em minha posse meia folha de selos da taxa de 200 reis (AF21) que adquiri, há cerca de um ano, num comerciante do Porto. Feita a análise da mesma verifico que todos os pontos são praticamente diferentes entre si. Encontram-se pontos quadrados, redondos (grandes e pequenos), quadrados de cantos arredondados, etc., etc………
A sequência dos selos na meia folha é a seguinte: L01 - 1.º selo da 1.ª coluna; L02 - 1.º selo da 2.ª coluna; L03 - 2.º selo da 1.ª coluna; L04 - 2.º selo da 2.ª coluna e assim sucessivamente.
            Partindo da premissa então apresentada, temos selos com sobrecargas falsas e verdadeiras na mesma meia folha. Se considerarmos que as sobrecargas da meia folha são falsas então também há sobrecargas com pontos quadrados falsos, e pelo contrário se considerarmos que a meia folha é genuína então assumimos que há sobrecargas com pontos redondos que também são genuínos. Por fim e na dúvida seguimos o conselho da loira: Atiramos os selos da meia folha à água, sendo falsos ou verdadeiros os molhados ou as “molhadas”. Grande “molho” de brócolos. Que cada um tire as ilações que melhor lhe convier.
           Numa impressão tipográfica a definição dos tipos, principalmente dos mais reduzidos em tamanho, vai-se deteriorando com o evoluir do tempo de impressão, motivada pela acumulação de impurezas. Se acrescentarmos que as folhas, onde eram impressas as sobrecargas, eram na sua maior parte de papel porcelana e também lavados, temos todos os condimentos para o empastamento dos tipos. E muito pior era o cenário nas colónias portuguesas, pois, as imprensas locais estavam equipadas com equipamentos impressores e tipos de menor qualidade.
          Por isso deixo um conselho a quem o quiser tomar: em sobrecargas e sobretaxas tipografadas, todo o cuidado é pouco nas apreciações que se possam produzir.

Bibliografia
·          Catálogo de selos postais das Colónias Portuguesas, 1911

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