domingo, 30 de setembro de 2012

1939 - A Sabena em Angola * Viagem presidencial


            Há uns anos atrás tivemos a oportunidade de publicar no Boletim do Clube Filatélico de Portugal n.º 405, de Setembro de 2004, um artigo intitulado “A História e a Filatelia * Restauração de Angola, Futebol e Correios Aéreo, onde apresentei dois raros sobrescritos circulados no voo que a Sabena realizou, em Agosto de 1936 de Leopoldville a Luanda e vice-versa, transportando a equipa de futebol do Congo Belga que veio realizar um jogo previsto no programa de comemorações do 288.º aniversário da reconquista de Angola aos holandeses.
Sobrescrito circulado em 14.08.1936 pela Sabena de Leopoldville para Luanda
 
            Esses dois sobrescritos que são de extrema raridade são algumas das “jóias da coroa” da minha colecção de correio aéreo de Angola. Tenho estes dois exemplares, cada um deles voado em cada um dos sentidos e nunca mais tive a oportunidade de ver outros semelhantes.
Carta circulada no voo de retorno da Sabena (15.08.36) de Luanda para Leopoldville
 
            Vem esta introdução a propósito porque adquiri recentemente um exemplar filatélico que, não sendo dessa primeira e histórica viagem de um avião da Sabena, está relacionado com uma segunda viagem a Angola de um dos aviões da companhia aérea belga, e que também transportou correio na sua viagem.
            Publiquei há pouco tempo neste blog um artigo sobre a primeira ligação aérea entre Angola e a África do Sul realizada pela South Áfrican Airways no advento da viagem presidencial de Óscar Carmona a Angola.
            A viagem a Angola, em 1939, do então Presidente não passou despercebida às colónias vizinhas de Angola que fizeram deslocar até Angola os seus governadores como foi o caso do ex-Congo Belga e do ex-Congo Francês, para além da visita de dois ministros do governo Sul-Africano.

            No dia 26 de Agosto de 1939, véspera da chegada do Presidente da República Portuguesa a Luanda, aterrou pelas 12H30 no aeródromo do Aero Clube de Angola um “Junker” da Sabena que transportava Pierre Ryckmans, Governador-Geral do Congo Belga, deslocando-se propositadamente para lhe apresentar cumprimentos em nome do Rei Leopoldo III da Bélgica.
Junker 52 da SABENA
 
            O que parecia apenas um voo de cortesia política acabou por proporcionar aos amantes da filatelia, e especialmente aos do correio aéreo, motivos de regozijo. Efectivamente, os correios da colónia belga, decidiram fechar mala de correio aéreo para ser transportada nesse voo, contendo essa mala pouco mais de três dezenas de cartas alusivas à viagem governamental.
            Os catálogos especializados de Frank Muller e de F. Godinas não referenciam este voo especial e não é vulgar o número de cartas circuladas, o que pode ter determinado terem passado despercebidas a muitos filatelistas. Na figura abaixo reproduzo uma das cartas transportadas nesse voo. Desconhecemos, porque se não conseguiu comprovar, se houve fecho de mala no voo de retorno.
Sobrescrito circulado como contendo impressos de Leopoldville (25.08.39) para Luanda (26.08.39)
 
            Porque as relações entre Portugal e a Bélgica não tenham sido sempre as melhores, consequência provável da partilha do Congo em 1885, tardaram a estabelecer-se ligações aéreas recíprocas entre Angola e o Congo Belga. A Sabena por várias vezes abordou as autoridades portuguesas no sentido de serem autorizados a trazer os seus aviões até Luanda e sempre lhes foi negada essa autorização. Entretanto e com carácter episódico, quando alugados por particulares, os aviões da Sabena fizeram alguns voos comerciais para Luanda. Só muitos anos depois foi autorizada a voar para Luanda.

Bibliografia
·         Jornal “A Província de Angola” de 26.08.1939
·         Catalogue de la Poste aérienne de Belgique et du Congo-Belge, Fr. Godinas
·         Catalogue des Aérogrammes du Monde Entier, Frank Muller, 1950
·         Intercontinetal Airmail * Volume Three * Africa, 2010, Edward Proud
·         Boletim do CFP n.º 405 – Setembro 2004
 

domingo, 16 de setembro de 2012

Carimbos numéricos volantes (28) * Andulo


Andulo nos anos 60
            Do estudo que vimos fazendo sobre os carimbos numéricos volantes cabe agora a vez de escrevermos sobre o historial do carimbo e sinete de lacre com o número 28. Este carimbo faz parte da segunda remessa que se mandou fazer e que era composta por dez carimbos numerados de 21 a 30.
            Estes dez carimbos pertencem ao tipo 2 cujas características principais são: círculo concêntrico exterior com 26mm de diâmetro e a legenda do arco inferior “CORREIOS” em vez da legenda do tipo 1 “CORREIO”.
Desenho do carimbo
 
            O carimbo e sinete de lacre foram atribuídos à estação postal de 3.ª classe do Andulo, pela ordem de serviço n.º 76 da Repartição Superior dos Correios de Angola, datada de 10 de Março de 1916, que abaixo se reproduz destacada do Boletim dos CTT de Angola n.º 3 de 1916.
Ordem de Serviço n.º 76 da RSCA de 10.03.1916
 
            A estação postal do Andulo foi criada pela Portaria Provincial n.º 9 de 16 de Janeiro de 1916 com a categoria de 3.ª classe, executando os serviços de recepção e expedição de correspondências ordinárias, assim como a venda de selos postais e outras fórmulas de franquia. Ficou responsável pela sua gestão o Chefe de Posto. Normalmente as chefias das estações postais de 3.ª classe eram entregues a pessoal estranho aos serviços dos correios, como sejam chefes de posto civil, comandantes de postos militares, comerciantes e chefes de estações ferroviárias.
Portaria n.º 9
 
            Em língua gentílica, Andulo designava-se Indulo ou abreviadamente Dulo, que significava fel (amargura). O soba Chicolongongo tinha um filho que foi mordido por uma cobra e acabou por falecer. O dorido pai decidiu mudar o nome da embala (povoação) para Andulo (fel-amargura).
Mapa de localização
 
Em 1916 quando foi criada a estação postal Andulo era um simples posto civil do Bié. Em 21 de Janeiro de 1920 pela Portaria Provincial n.º 46 foi criada a Circunscrição Civil do Andulo, cuja sede primitiva estava em Caundi, tendo passado para o Posto Civil do Andulo, também designado pelos nativos, por Posto de Dondelo. Em 1934 passou a constituir um concelho de 3.ª classe.
Administração do Concelho onde durante vários anos esteve instalada a estação postal
 
            A localidade do Andulo teve um desenvolvimento rápido e em 1959 mercê do grande volume de correspondência postal circulada e por ser servida pelo telégrafo passou a ter uma estação telégrafo-postal de 1.ª classe servida por pessoal afecto aos serviços dos correios.
Fig. 1 - Sobrescrito circulado do Andulo (07.07.34) para Vila Nova de Fozcôa (28.07.34) com trânsito por Silva Porto (08.07.34). Franquiada com 0,80Ag pelo primeiro porte para Portugal (cartas até 20g) + selo do imposto postal “Assistência” de 0,50Ag devido durante o mês de Julho.
 
            Andulo ficava a uma altitude de 1.790 metros em pleno planalto central e usufruía de um clima subtropical óptimo, com temperaturas médias anuais de 20.º chegando a gelar as águas fora de casa nos meses mais frios de Maio a Julho, o que facilitava a fixação de europeus.
Fig. 2 - Sobrescrito circulado do Andulo (18.01.45) para Boston. Franquiado com 1,75Ags correspondente ao primeiro porte para cartas com destino aos países estrangeiros (peso até 20g)
 
            Economicamente era muito forte existindo em 1959 65 casas comerciais na área do posto, para além de diversas unidades agrícolas que se dedicavam à cultura do café, sisal, tabaco, batata, trigo e milho. A pecuária também apresentava um bom desenvolvimento. Porém a fruticultura tinha uma grande implantação, exportando frutas para Luanda, principalmente morangos, maçã, laranja, goiaba e nêsperas.
Fig. 3 - Bilhete-Carta para o serviço aéreo de 4,50Ags circulado de Chilesso / Andulo (21.04.51) para Sunderland / USA, com trânsito pelo Lobito (24.04.51) e Luanda (28.04.51). Carimbo numérico utilizado como recurso, pois a estação do Andulo já tinha marca de dia própria com topónimo.
 
            Tinha um clube desportivo e recreativo, o Sport Andulo e Benfica. Á Vila do Andulo chegou a ser dado o nome de Vila Macedo de Cavaleiros, mas voltou a chamar-se Andulo por imposição legal.
            O carimbo numérico volante atribuído à estação postal do Andulo foi o que mais tempo esteve ao serviço de uma estação postal. Atribuído à mesma em 1916 encontram-se registo da sua utilização em 1951 conforme se pode constatar pelo figura n.º 3 .
Fig. 4 - Bilhete-Carta para o serviço aéreo circulado do Andulo (19.06.57) para os EUA. Sobretaxado de 1$00 sobre 2$50. Um selo adicional de 3,00Ags perdido.
 
É provavelmente o carimbo mais comum de entre os carimbos numéricos. Pelos nossos registos a Vila do Andulo só teve marca de dia com topónimo na reforma de 1947 (Fig. 4)


Bibliografia
· Índice Histórico-Corográfico de Angola, 1972, Mário Milheiros, IICA
· Boletim Oficial de Angola
· Boletim dos CTT de Angola, 1917
· Dicionário Corográfico-Conercial – Antonito, 1959 4.ª edição
 
 

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Angola - Primeira ligação aero postal com a África do Sul


            Desde os primeiros meses de 1938, quando começaram os primeiros voos experimentais do Aero Clube de Angola com destino a Ponta Negra a título precário e a partir de 28 de Outubro de 1938 com uma periodicidade semanal e com carácter oficial, Angola esteve praticamente reduzida a esta única via de comunicação aérea com o exterior. Em apontamento aqui editado a Aeromaritime ainda fez entre 4 de Julho de 31 de Agosto nove voos experimentais de Dakar a Luanda com os seus anfíbios.
As populações da colónia ansiavam por novas vias de comunicação aérea e a mais solicitada era a denominada Linha Imperial que pretendia estabelecer uma ligação aérea entre Portugal e as colónias de Angola e Moçambique. Porém esta ligação apenas se viria a concretizar em finais de Dezembro de 1946.
Um dos logótipos da South Adrican Airways
 
            Outra das ligações aéreas muito requisitada era a que ligaria Luanda a Leopoldville, permitindo aqui uma conexão com as linhas da Sabena para a Europa, mas por razões políticas nunca ouve vontade de a estabelecer, malgrado as muitas tentativas feitas pela companhia aérea belga para trazerem os seus aviões até Luanda.
Junker 52 em pleno voo na região de Cape Town
 
Porém, em meados de 1939 começou-se a delinear a hipótese de os aviões da South African Airways (SAA) pudessem vir a escalar os aeroportos de Angola. As relações políticas com Inglaterra, nosso velho aliado, eram mais próximas pelo que não foi difícil o entendimento.
            Dia 4 de Maio de 1939 um grande “Junkers” da SAA aterra em Luanda pelas 10H30, tendo regressado no dia seguinte com escalas no Lobito e Moçamedes. Tratou-se de uma viagem experimental para aquilatar das condições dos aeroportos de angolanos, tendo como finalidade o estabelecimento das carreiras entre a África do Sul e Angola. O avião com capacidade para 10 passageiros, trouxe para além da tripulação, o sub-director da SAA, Mr. G. S. Leventon e o correspondente aeronáutico dos principais jornais sul-africanos.
Aeroporto de Windhoeck
 
O avião utilizou a pista do Aero Clube de Angola, tendo a aterragem e descolagem decorrido nas melhores condições, porém o avião teve que pernoitar em Luanda, regressando apenas no dia 5 de Maio, porque uma forte bátega de água tornou impraticável a pista.
Primeiro emblema da South African Airways
 
            Segundo notícia publicada no jornal “A Província de Angola” de 4 de Maio ter-se-á fechado mala de correio para o Lobito, Moçamedes, África do Sul e Moçambique. Ainda não tivemos oportunidade de encontrar uma carta circulada neste voo.
Notícia publicada pelo Jornal “A Província de Angola”
 
Estavam lançados os dados para a criação da ligação aérea. Essa ligação viria a concretizar-se apenas em Agosto do mesmo ano, e escolheu-se o advento da visita do Presidente da República Óscar Carmona a Angola para a sua inauguração.
Pista de aterragem do Aero Clube de Angola e a sua frota de aviões
 
            A data escolhida para o voo inaugural foi o dia 22 de Agosto. No dia previsto pelas 15H30 aterrou no campo do Aero Clube de Angola o Junkers “Major Warden” trazendo como passageiros os ministros sul-africanos das Finanças e dos Portos e Caminhos-de-Ferro, respectivamente Mr H. C. Havenge e A. P. Faurie. O regresso do avião teve lugar no dia 25 de Agosto com as escalas previstas realizar.
            As ligações seriam semanais com partida de Cape Town e chegada a Luanda e com escalas intermédias, entre outras, em Windhoek. Moçamedes e Lobito de acordo com a seguinte horário:
Timetable da ligação aérea Cape Town – Luanda
 
            Para este voo foram preparadas correspondências que assinalaram a efeméride. São muito comuns os sobrescritos circulados no primeiro voo, sinalizando as suas diversas escalas.
            As tarifas postais aplicáveis às correspondências circuladas para a África do Sul são as seguintes:
            1 – Pelo porte de correio ordinário aplica-se a tabela constante do Aviso n.º 8 da Repartição Central dos Serviços dos CTT de Angola, datada de 02.05.1936, em harmonia com o Acordo da União Postal Africana, celebrado em Pretória em 30.10.1935. Por essa tabela o primeiro porte seria de 0,80Ag (peso até 20g) e os portes imediatos de 0,50Ag (por cada 20 gramas a mais).
Aviso n.º 8 dos CTT com a tabela de portes ordinários para a África Austral
 
            2 – Para além do porte de correio ordinário as cartas estavam sujeitas à sobretaxa do correio aéreo de 1,00Ag por cada 5g de peso.
            Durante o período em que durou a Segunda Guerra houve algumas interrupções do serviço, motivado principalmente pela falta de sobresselentes para as aeronaves.
Sobrescrito circulado no primeiro voo de Outjo (22.08.39) para Moçamedes (22.08.39)
 
Sobrescrito circulado no primeiro voo de Luanda (23.08.39) para Somerset West (28.08.39). Insuficientemente franquiado com 1,60Ags quando deveria ter pago 0,80 pelo primeiro porte de correio ordinário e 1$00 pelo primeiro porte de sobretaxa aérea
 
Sobrescrito circulado no primeiro voo de Moçamedes (25.08.38 – erro de datador) para Cape Town (26.08.39). Franquiado com 1,80Ags correspondente a: 0,80Ag pelo primeiro porte do correio ordinário (peso até 20g) + 1$00 pelo primeiro porte da sobretaxa aérea (peso até 1$00)
 
Sobrescrito circulado de Moçamedes (21.08.39) para Winhoeck (25.08.39). Franquiado com 1,80Ags correspondente a: 0,80Ag pelo primeiro porte do correio ordinário (peso até 20g) + 1$00 pelo primeiro porte da sobretaxa aérea (peso até 1$00)
 

Bibliografia
·         Jornal “A Província de Angola”
·         Jornal “Diário de Luanda”
·         Boletim Oficial de Angola
·         Intercontinental Airmails, Volume Three, África, 2010, Edward Proud

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Carimbos numéricos volantes (10) * Vila Arriaga



Vila Arriaga - Chegada do comboio
           
          
            Voltamos ao historial dos carimbos numéricos volantes que começaram a ser distribuídos, em 5 de Agosto de 1913, pelas estações postais que não tinham marcas de dia próprias. Eram carimbos com um cunho eminentemente provisório mas que na realidade se perpetuaram por longos anos nas estações a que foram atribuídos. É este o caso do carimbo e sinete de lacre n.º 10. Este carimbo é da tipologia 1, constituído por dois círculos concêntricos, com 26 mm no círculo maior e com a legenda inferior “CORREIO”.
Fig. 1 – Desenho do carimbo volante n.º 10
 
O carimbo foi atribuído à estação postal de Vila Arriaga pela Ordem de Serviço n.º 351 da Repartição Superior dos Correios de Angola, datada de 24 de Outubro de 1913, e que abaixo se reproduz, destacada do Boletim dos CTT de Angola.
Fig. 2 – Ordem de Serviço n.º 351 da RSCA de 24.10.1913
 
            A estação postal de Vila Arriaga foi criada pela Portaria Provincial 294-A de 14 de Março de 1912. A sua abertura não foi feita de forma habitual. Quando se iniciou a construção do Caminho-de-Ferro de Moçamedes foi criada uma estação postal itinerante que acompanhava a testa da linha ferroviária em construção.
Fig. 3 – Portaria Provincial n.º 294-A
 
Inicialmente a linha do Caminho-de-Ferro de Moçamedes estava programada para ser construída até à localidade da Humbia, cerca de 18 kms depois de Vila Arriaga, também conhecida por Bibala. A partir da Humbia a construção da linha ferroviária era de enorme complexidade, pois a transposição da serra da Chela em direcção ao Lubango era um obstáculo de respeito.
            Porém a deflagração da Primeira Grande Guerra vai determinar que a construção da linha se prolongue, pois havia necessidade de fazer deslocar tropas para o interior, afim de defender a região além Cunene.
Fig. 4 – Estação ferroviária de Vila Arriaga, primeira localização da estação postal
 
Assim, quando a construção da linha avançou e chegou à Vila Arriaga a estação itinerante que estava entretanto no Km 147 foi transferida para Vila Arriaga e aí ficou definitivamente, pois esta vila foi criada para ser a estação terminus da linha, sendo encarregado da sua exploração o chefe da estação ferroviária.
A estação postal vai manter-se situada na estação ferroviária e a cargo do seu chefe durante quase oito anos, até quando, pela Portaria n.º 50 de 22.01.1920, é transferida para a Administração da Circunscrição Civil da Bibala cuja sede era Vila Arriaga. Ou seja a estação postal apenas se deslocou fisicamente da estação ferroviária para a Administração da Circunscrição dentro da mesma localidade.
Fig. 5 – Portaria n.º 50
 
            Conforme anteriormente afirmamos, Vila Arriaga foi criada pela Portaria n.º 124, publicada no Boletim Oficial n.º 5 de 1912 para ser a Estação Terminus do Caminho-de-Ferro de Moçamedes. Começou por ser sede da Circunscrição de Capangombe mas mais tarde passou a ser a sede da recém criada Circunscrição Civil da Bibala, composta pelos postos de Lola, Camecuio, Bentiaba e Alto Bentiaba.
Fig. 6 – Mapa com localização de Vila Arriaga
 
            Vila Arriaga está situada ao Km 169 da linha do Caminho-de-Ferro de Moçamedes e dista cerca de 50kms de Sá da Bandeira, abrigada pelos contrafortes da Serra da Chela, com um clima bom para fixação de europeus e com largos e imponentes panoramas da serra.
Fig. 7 – Vista parcial de Vila Arriaga
 
            Em 1959 existiam em todo o concelho 21 casas comerciais, sendo 10 na Vila. Uma das grandes riquezas da região era a pecuária com destaque para a criação de bovinos e caprinos. Ficava situada no concelho a Reserva Pastoril da Bibala, com cerca de 800.000 hectares destinada a europeus e equiparados. Tinha moagens de cereais e fábricas de corte de madeiras.
Fig. 7 – Centro da Vila notando-se do lado esquerdo o seu Coreto.
 
            Havia o Clube Recreativo e Desportivo da Bibala que desenvolvia uma actividade desportiva muito intensa e interessante, destacando-se o basquetebol feminino. A Vila também era conhecida pelas famosas festas em homenagem aos santos populares, com bailes e actividades desportivas, muito frequentados pelas populações das vizinhas cidades de Moçamedes e Sá da Bandeira.
Fig. 8 – Postal ilustrado circulado de Vila Arriaga (30.01.1930) para o Cairo com trânsito por Moçamedes (31.01.1930). Foi erradamente franquiado com 1$60 (primeiro porte para cartas remetidas para o estrangeiro) em vez de 96c correspondente ao porte de bilhetes postais para o mesmo destino.
 
            Voltando ao assunto principal deste artigo, o carimbo volante numérico esteve em uso na estação postal durante muitos anos. São conhecidos muitos postais ilustrados obliterados com esta marca, porém a grande maioria são obliterações filatélicas, não passando de meros “souvenirs”. Os exemplares correctamente circulados são muito mais raros.
Fig. 9 – Postal ilustrado circulado de Vila Arriaga (27.05.21) para Palermo (29.05.21) com trânsito por Moçamedes (28.05.21). Pagou de franquia 50c correspondente a: 36c porte de bilhetes-postais para o estrangeiro + 14c de excesso de porte.
 
            Só em 1939, com a reforma das marcas-de-dia em Angola, foi atribuída uma marca de dia definitiva já com o topónimo de VILA ARRIGA. O carimbo numérico esteve em uso na estação durante 26 anos ininterruptos.

 
Bibliografia
·         Índice Histórico-Corográfico de Angola, 1972, Mário Milheiros, IICA
·         Boletim Oficial de Angola
·         Boletim dos CTT de Angola, 1917
·         Dicionário Corográfico-Conercial – Antonito, 1959 4.ª edição
 

domingo, 2 de setembro de 2012

Angola - Correio acidentado * Sinistro da Sabena (2)


Douglas DC4 - 1009
            Como já afirmamos não é muito vulgar o correio aéreo acidentado de Angola, conhecendo-se apenas meia dúzia de voos com sinistros que tenham transportado malas de correio de ou para Angola. Um desses voos foi efectuado pela Sabena em 13 de Maio de 1948, com partida do aeroporto de Leopoldville, destino a Bruxelas e com uma das escalas técnicas em Libenge (ex- Congo Belga). Como previsto o avião descolou de Leopoldville com 32 pessoas a bordo e três horas depois despenhou-se numa floresta em Magazini a poucos quilómetros de Libenge, ainda em pleno ex-Congo Belga. O avião entrou numa zona de grande turbulência atmosférica a uma altitude de 700 metros, foi perdendo essa altitude e acabou por se despenhar na floresta, tendo-se incendiado. Do acidente apenas sobreviveu um dos passageiros.
Cockpit do avião
Causa provável do acidente: O piloto levou a aeronave para o centro de um pequeno tornado a baixa altitude e foi provavelmente projectado para o solo por uma rajada de vento mais forte.
 
Ficha técnica
Data: 13 de Maio de 1948
Hora: 11H00
Local do acidente: Magazini – Libenge (ex-Congo Belga)
Avião: Douglas DC4 -1009, construído pela Douglas Aircraft Company
Companhia de bandeira: SABENA
Matrícula: OO-CBE
Carreira: Leopoldville – Libenge - Bruxelas
Piloto: G. Greindl
Tripulação: 3 pilotos e 4 assistentes de bordo – todos mortos
Passageiros: 25 tendo apenas sobrevivido 1
Motores: 4 x Pratt & Whitney R-2000 com 1.450hp cada
Velocidade máxima: 450 kms/h
Velocidade cruzeiro: 365 kms/h
Capacidade máxima: 44 passageiros
Comprimento: 28,60m
Envergadura: 35,81m
Alcance: 4.021 milhas
 
O Douglas DC-4 foi desenvolvido pela Douglas Aircraft Company a pedido da americana United Airlines, que tinha necessidade de adquirir para a sua frota um tipo de avião quadrimotor de longo curso. Inicialmente, este avião, era quase 50% maior que o seu antecessor o mítico DC-3, porém razões de ordem económica determinaram que o formato final fosse mais reduzido que o protótipo, cujo primeiro voo experimental se realizou em 1939. Na totalidade foram construídos 1.240 unidades deste modelo.
Mapa com localização do local de partida e o local do acidente aéreo
Do acidente foi recuperada uma grande parte da correspondência, alguma com grandes danos provocados pelo fogo. A correspondência foi transportada para Libenge, onde foi feita uma triagem para fazê-la seguir aos seus destinos, tendo-se-lhe aplicado uma marca que assinala o seu sinistro, contendo a seguinte legenda em três linhas: “Accident Avion Sabena / Avons laisser pour suivre / vers leurs destinations”.
Figura 1 - Frente

Figura 1 - Verso
O sobrescrito da Fig.1 fez parte do correio sinistrado. Foi remetido registada de Camacupa por via ferroviária para Silva Porto, de onde foi transportada para Luanda (11.05.1948) nos aviões da DTA. A mesma companhia aérea transportou-a para Leopoldville no dia 12 de Maio, seguindo-se o acidente em Libenge. O sobrescrito está parcialmente destruído pelo fogo.
No seu interior encontramos uma carta datada de 27.04.1948 em que um filatelista radicado em Nova Sintra, propõe a um filatelista holandês a troca de selos de Angola, por selos de outras proveniências mundiais, facultando-lhe uma extensa lista de selos em que está interessado.

Bibliografia
·         Recovered mail (1937-1988), 1996, Henri L. Nierinck
·         Histoire du Service Postal au Congo Belge (1886-1960) – Tome I, 2002, Roger Gallant