domingo, 25 de setembro de 2011

Carimbos numéricos volantes (00) * Introdução

 


A – Introdução
            Desde 1986, quando da publicação da obra “Marcas Postais de Angola” da autoria do ilustre filatelista Alexandre Guedes de Magalhães, que não aparecia qualquer trabalho, versando o tema em título. Porque o trabalho, outrora elaborado, estava muito incompleto, decidi avançar com uma pesquisa mais aprofundada sobre a utilização daquelas marcas, resultando esse estudo na publicação de um artigo na extinta “Convenção Filatélica” em Novembro de 2002. Não foi um trabalho fácil, porque a distribuição das marcas era feita por ordens de serviço emanadas da Repartição Superior dos Correios de Angola. A obra mais indicada para as pesquisas seria o Boletim Oficial de Angola, mas acontece que, sendo os anos de 1914 e 1915 aqueles em que a maioria dos carimbos foram atribuídos às estações postais, aquele boletim não foi publicado. Para além disso, a partir de 1918, a redistribuição de alguns poucos carimbos, entretanto devolvidos à Repartição Superior dos Correios, não o foi feito por Ordem de Serviço como estava regulamentado. Um estudo deste teor nunca está terminado, pelo que vou retornar a este tema neste espaço, com uma nova abordagem e mais algumas achegas sobre a vida destes carimbos volantes.
B – Razões do aparecimento dos carimbos numéricos de duplo circulo
            A reforma dos Correios de Angola, encetada com a publicação dos “Regulamentos para o serviço de correios ultramarinos” no Boletim Oficial de Angola n.º 19 - Suplemento de 14 de Maio de 1903, determinou uma proliferação de estações postais de 3ª classe. Ainda sob os efeitos da Conferência de Berlim, que pelos artºs 34º e 35º do Acto Geral,  estabelecia só ser considerada efectiva a ocupação territorial quando apoiada por factos positivos de administração e polícia, as entidades governativas procuram fazê-la pela criação de uma vasta rede de Postos Militares, aos quais normalmente agregavam uma estação postal de 3ª classe a cargo do comandante do posto. Para se aquilatar desta proliferação de estações postais vejamos a sua evolução em finais do século XIX e início do século XX:
                        1896    -      45                                               1903     -     117                     
                        1897    -      45                                               1904     -     118
                        1898    -      46                                               1911     -     120
                        1899    -      46                                               1912     -     121
                        1900    -      56                                               1913     -     124
                        1901    -      56                                               1916     -     126
                        1902    -      59
            Como se pode verificar, pela estatística apresentada, o ano de 1903 viu nascer 58 novas estações postais ou seja o dobro das existentes. Estas 58 novas estações postais criadas foram todas de 3ª classe e quase todas junto de Postos Militares e alguns Postos Civis. Eram estações eram exploradas sem encargo para os Correios, pois os militares ou os funcionários da administração civil o faziam gratuitamente.
            A maioria destas estações postais não tinham carimbos obliteradores, mas também não são conhecidas muitas obliterações manuscritas em Angola o que torna o facto misterioso. Como se marcavam as correspondências nestas estações? É evidente que também não se conhecem muitos exemplares circulados obliterados com as novas marcas numéricas entretanto atribuídas. Exceptuando as marcas numéricas 10, 18, 26, 28 e 35 das quais são conhecidas várias cartas, todas as outras numerações são extremamente raras, e de algumas não se conhece qualquer carta ou selo obliterados.
            Assim para dotar algumas destas estações postais com marcas obliteradoras, remediar de imediato algum acidente num carimbo em uso, ou para uso em novas estações postais entretanto criadas, foram adquiridos numa primeira fase 20 exemplares de carimbos, numerados de 1 a 20. Pela Ordem de Serviço nº. 284 da Repartição Superior dos Correios de Angola de 05.08.1913 que transcrevemos de seguida foram oficialmente consagrados os carimbos numéricos de duplo circulo:
            “Tendo sido adquiridos por esta repartição para fornecimento às estações que os não possuam, 20 carimbos para inutilização de selos e igual número de sinetes para lacre, numerados de 1 a 20, conforme os modelos afixados nesta ordem de serviço e que acabam de dar entrada no respectivo depósito, determino que, sempre que alguns desses carimbos ou sinetes seja fornecido a qualquer estação, se faça constar em ordem de serviço os respectivos números e os nomes das estações a que foram fornecidos, para conhecimento do pessoal e devidos efeitos. Estes carimbos e sinetes serão fornecidos nos termos usuais do fornecimento de impressos, material e expediente e serão aumentados à carga das estações que os requisitarem.
Repartição Superior dos Correios de Angola, em Loanda, 5 de Agosto de 1913. = O Director, Leopoldo Carlos Madeira.
            Logo pela Ordem de Serviço 285, da mesma data, foram distribuídos os primeiros 5 carimbos e sinetes às estações postais de Cuamato, Quipungo, Capelongo e Cassinga no Distrito da Huíla, e à estação da Ilha de Luanda.
            Em pouco mais de meio ano foram distribuídos os primeiros 20 carimbos, pelo que foram adquiridos mais 10 exemplares, numerados de 21 a 30, em finais de 1915. Em Março de 1916 esgotou-se novamente o stock de carimbos, pelo que nova aquisição de 10 exemplares numerados de 31 a 40 foi efectuada, começando a sua distribuição em Setembro de 1916.
C – Morfologia dos carimbos
            Há três tipos distintos de carimbos numéricos de duplo círculo, que correspondem às três aquisições efectuadas. Não houve uma preocupação ou cuidado para nas novas encomendas de se manter a morfologia dos primitivos 20 carimbos.
a)      – Tipo 1
Corresponde aos primeiros 20 carimbos numerados de 1 a 20. São constituídos por dois círculos concêntricos , com 26 mm de diâmetro no circulo maior, e o número na parte superior da coroa circular. Datador ao centro em algarismos árabes , sendo o ano representado por dois algarismos. Como legenda lê-se “ PROVINCIA DE ANGOLA” em cima e “CORREIO” em baixo.
b)     – Tipo 2
Corresponde aos segundos 10 carimbos numerados de 21 a 30. Tal como os primeiros são constituídos por dois círculos concêntricos, com 26 mm de diâmetro no circulo maior e número na parte superior da coroa circular. A legenda superior também é igual, diferindo apenas do tipo 1 por a legenda inferior conter a palavra “CORREIOS” em vez de “CORREIO”.
c)      – Tipo 3
Pertencem a este tipo os 10 carimbos numerados de 31 a 40. Em relação ao tipo 2, estes carimbos apenas diferem no diâmetro do circulo maior que é de 31 mm.
            Acompanhando estes carimbos era sempre distribuído um sinete numérico para lacre, conforme imagem abaixo.
                                                        Sinete para lacre


Bibliografia
                        Boletim dos Correios de Angola
                        Boletim Oficial de Angola

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