quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Os "misteriosos" selos de Cabo Delgado (5)

No meu anterior apontamento, sobre este tema, terminei com a informação de que os selos deram entrada na Casa da Moeda, ficando aí depositados.
A 7 de Agosto de 1897, ainda não tinha assente a poeira levantada pelo armazenamento dos selos de Cabo Delgado, na Casa da Moeda, a Administração em Lisboa da Companhia do Niassa apressa-se a remeter um relatório de gerência ao Comissário Régio expondo entre vários assuntos, a problemática da emissão de selos postais, específicos e apropriados, de acordo com a autorização de 21 de Novembro de 1894.
O teor desta exposição é o que a seguir transcrevemos: “São bem conhecidas as causas pelas quaes a Companhia tem estado privada do rendimento, que lhe pertence, das estampilhas postaes, sellos forenses e papel sellado. O decreto de 21 de Novembro de 1894 auctorizando a emissão d’essas formulas na Casa da Moeda com destino aos Territórios da Companhia do Nyassa, ainda não pôde ser executado
Reconhece a Companhia que talvez a execução d’elle não podesse fazer-se immediatamente, se se attender não só aos importantes trabalhos de que n’este mommento esta encarregada a Casa da Moeda, como ainda à remodelação que parece preparar-se nos typos de sellos, tanto postaes como forenses. Nestes termos apresenta a Companhia dois alvitres, paracendo-lhe que qualquer delles poderá fornecer uma solução provisória ás suas reclamações sobre o assumpto.
1.º - Que o Governo de Sua Megestade consinta na circulação das estampilhas postaes em tempos mandada fazer pelo Administrador G. Wilson, e que actualmente se acham depositadas na Casa da Moeda, mediante a apposição feita n’este estabelecimento d’uma sobrecarga, por ex. – Válido – com a coroa portuguesa, que legalizasse essas fórmulas, sendo a despeza d’esse trabalho de conta da Companhia.
2.º - Que sejam innutilizadas na Casa da Moeda perante as respectivas auctoridades e por conta da Companhia as estampilhas postaes a que se faz referencia no n.º anterior e que, enquanto a Casa da Moeda não poder fornecer formulas especiaes para a Companhia do Nyassa, seja aquelle estabelecimento auctorizado a fornecer-lhas (tanto das estampilhas postaes, como papel sellado e sellos forenses) do mesmo padrão que serve para a Província de Moçambique, com a sobrecarga – Companhia do Nyassa – pagando a Companhia a estampagem das formulas e da sobrecarga nos termos adoptados para os fornecimentosá Companhia de Moçambique.”
Como depreendemos do texto desta exposição, mais uma vez a Companhia tentou colocar em circulação os selos mandados produzir por G. Wilson. Perante esta exposição o Comissário Régio junto da Companhia do Niassa apressou-se a dar dela conhecimento ao Governo Português por ofício datado de 11 de Agosto de 1897, solicitando a sua atenção, pois segundo seu entender, as solicitações da Companhia seriam, em geral, atendíveis.
            Perante o ofício do Comissário, as entidades governamentais decidiram finalmente encontrar uma solução, pelo que foi solicitado um parecer à 2.ª Repartição da Direcção Geral do Ultramar, que o lavrou, em 1 de Outubro de 1897, com o seguinte teor:
            “Não tendo sido possível fazer, com a necessária urgência, as matrizes para os sellos e estampilhas que a Companhia do Nyassa tem de usar nos territórios da sua jurisdição, foi-lhe sugerido o alvitre, que ela aceitou, de serem pela mesma companhia adoptados, a titulo provisório, os sellos ou estampilhas e mais formulas do typo usado na Província de Moçambique com a sobrecarga – NYASSA – da correspondente á que nas mesmas  apenas designem o distrito onde devem circular. O Ministro da Fazenda está d’accordo. Como tem de se fazer uma portaria de auctorização torna-se indispensável que o Senhor Chefe da 3.ª Repartição informe se há inconveniente, pelo que importa aos correios, nesta solução provisória.”
            Esta proposta foi aprovada com os alvitres propostos no mesmo dia em que foi produzida, após consulta prévia à Administração da Companhia do Niassa que os aceitou, optando assim pela sua segunda proposta. Ficaram assim definitivamente condenados à destruição pelo “fogo” estes “misteriosos” selos do Cabo Delgado. A sentença tinha acabado de ser proferida e foi dado cumprimento á parte final da primeira solução da Companhia. Um longo período de quatro anos mediou o “nascimento” e a “morte” destes selos, que tanta polémica causaram. Sempre me pareceu, desde o início, quando comecei a debruçar-me sobre este assunto, que o que estava em causa não eram os selos mas unicamente aspectos políticos ligados à soberania portuguesa sobre os territórios concessionados. Casos bem mais graves ocorreram nas colónias portuguesas que, em contraponto, tiveram soluções e entendimentos bem mais benevolentes.
            A 27 de Outubro de 1897 é elaborada a Portaria a publicar, dando a devida autorização para a sobrecarga de selos de Moçambique com a legenda “NYASSA”, que a seguir se reproduz.
            Na eminência da aceitação de uma das soluções propostas, para a criação de selos próprios para circularem nos territórios sob a jurisdição da Companhia do Niassa, esta remeteu em duplicado a sua primeira requisição de selos postais que a seguir se reproduz.
            Para quem reclamava, insistentemente, a perda de receitas elevadas com a não criação dos selos postais, parece-me que esta primeira requisição é muito modesta, pois segundo o regulamentado, ela deveria satisfazer as necessidades de pelo menos três meses de consumo.
            Com a “morte” dos “misteriosos” selos do Cabo Delgado entramos na recta final deste aliciante tema. Faltará fazer as considerações finais. Tenho um entendimento muito pessoal sobre este processo, provavelmente muito divergente ao do que outros filatelistas têm. Em tempo oportuno divulgarei as minhas conclusões.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Um regresso às sobrecargas "Ultramar" e "Colónias"

            Num apontamento publicado em 21 de Agosto poderei ter deixado uma ideia menos precisa sobre a data em que passou a ser obrigatório o envio, por parte das Administrações Postais, de um número determinado de selos de todas as emissões produzidas por cada uma delas. Tomei aí como exemplo um excerto de um ofício que tinha como génese a Convenção Postal de Roma. Era minha intenção utilizá-lo apenas como exemplo e não como informação de que essa obrigatoriedade de envio dos selos se tivesse iniciado a partir daquela Convenção.
            Nas pesquisas que tenho realizado consegui validar o envio desses selos a partir da emissão de D. Carlos I tipo Diogo Neto em 1894. Não consegui apurar se os selos tipos Coroa e D. Luís I, tivessem sido enviados para Berne, porque não encontrei os respectivos ofícios e remetê-los.
            Esclarecido este pormenor que porventura pudesse ter induzido em erro algum dos leitores, vou também alertar para o facto de provavelmente a partir de 1912 poder também ter sido utilizada a sobrecarga “ULTRAMAR” em detrimento da sobrecarga “COLÓNIAS”, porque não tenho suporte para o afirmar peremptoriamente.
            Agora, o que importa, é chamar a atenção dos filatelistas menos atentos para diversas sobrecargas “ULTRAMAR” que aparecem no mercado que são autênticos atentados aos nossos interesses patrimoniais, porque se tratam de devaneios de um certo “ILUMINADO” que fabricou essas sobrecargas, para além de muitas outras com a legenda “SPECIMEN”.
            Hoje tive oportunidade de trocar impressões, com o meu amigo Manuel Janz, “furioso” coleccionador de S. Tomé e Príncipe, acerca de uns selos com a sobrecarga “ULTRAMAR” daquela colónia, que foram mostrados no fórum www.selos-postais.com e que ele quase jurava serem autênticos. Pois está enganado o meu amigo e todos aqueles que assim o entenderam. É, antes de mais, necessário raciocinar e logo se percebe o logro em que podem cair, inocentemente, os filatelistas.
            Vou antes de prosseguir recapitular o processo de envio dos selos e consequente sobrecarga. Sempre que há uma nova emissão de selos as Administrações Postais têm a obrigatoriedade de enviar um determinado número de selos originais para a Secretaria Internacional em Berne, no mais curto espaço de tempo. Esta quantidade foi variável no tempo, em função do número de países aderentes.
            Depois de recepcionados os selos pela Secretaria em Berne, eles são distribuídos pelas Administrações Postais, inclusive para aquela que emitiu a série. No caso das Colónias Portuguesas a Secretaria enviava “à posteriori” os selos para o Ministério do Ultramar ou das Colónias.
            Depois da recepção dos selos, vindos de Berne, era aplicada no Ministério a sobrecarga “ULTRAMAR” ou “COLÓNIAS” tendo em vista a supressão do poder de franquiar. Por cada emissão só eram enviados por uma vez selos para Berne. Este envio era feito no mais curto espaço de tempo após a emissão dos selos. Portanto no caso das séries base que estavam sujeitas a diversas tiragens, com alterações do papel ou denteados, não eram enviados os selos de cada tiragem pois as cores base mantinham-se.
Os dois primeiro selos (papel porcelana e denteado 15x14) pertencem à primeira tiragem pelo que podem ter sido sobrecarregados com "ULTRAMAR". Os três últimos selos das tiragens de 1918 a 1924 (papel liso e denteado 15x14 ou 12x11½) não podem ter sido sobrecarregados com "ULTRAMAR"
            Assim no caso dos selos “CERES” das ex-colónias, os únicos que podem ostentar a sobrecarga “ULTRAMAR” ou “COLÓNIAS”, são os que foram produzidos em papel porcelana, denteado 15x14. Dois dos selos apresentados naquele site, 5c azul e 10c laranja-tijolo (idênticos aos acima reproduzidos) em papel liso, denteado 12x11 ½, não podem exibir a sobrecarga “ULTRAMAR” porque foram produzidos em 1924 e não foram enviados para Berne e por consequência distribuídos pelas Administrações Postais, porque o selo da sua génese (papel porcelana e denteado 15x14) já anteriormente (finais de 1913) havia sido enviado e distribuído.
            E tanto assim é, porque o comprovei, “in loco”, no Arquivo Histórico Ultramarino, consultando todos os ofícios remetidos para Berne com os selos emitidos para as Colónias desde 1893. Em nenhum caso se verifica o envio de mais selos, para além dos da primeira tiragem, quando da emissão da série.
           
           

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Carimbos numéricos volantes (37) * Cuílo e Marimba

            Pela Ordem de Serviço n.º 284 de 5 de Agosto de 1913 a Repartição dos Correios de Angola começaram a distribuir pelas estações postais, que não possuíam marcas de dia, vinte carimbos e sinetes para lacre, com a particularidade de apenas se referenciarem por um número. Estes carimbos deveriam ser utilizados com carácter transitório enquanto a estação não recebesse a sua marca de dia definitiva. Nem sempre assim aconteceu, porque na maior parte dos casos, os carimbos acabaram por estar em uso nas estações por muitos anos. Depois de distribuídos os primeiros 20 carimbos, foram encomendados mais 10 carimbos e de seguida outros 10 carimbos. Assim existiram 40 carimbos numerados de 1 a 40.
            O carimbo numérico “37” e o correspondente sinete de lacre foram atribuídos pela Ordem de Serviço n.º 8 de 15.01.1917 (Fig. 1) à estação postal de 3.ª classe do Cuílo.
            O Cuílo era em 1899 um Posto Administrativo da Circunscrição de Camaxilo no Distrito da Lunda criado pela Portaria Provincial n.º 280 de 17.06.1899, tendo sido extinto em 23.06.1940 pela Portaria n.º 3391 e integrado o seu território na área do Posto de Caluango. Em 1968 voltou a ser novamente Posto Administrativo passando em 1971 a ser uma Circunscrição com o mesmo nome.
            Era uma povoação de 4.ª categoria distando cerca de 900 kms de Luanda e a 377 kms de Henrique de Carvalho. Não existiam casas comerciais nem fazendas agrícolas. O seu comércio baseava-se na permuta e pequenas quantidades de amendoim, óleo de palma, couros e cera. Este comércio era feito normalmente no Congo Belga, pela sua proximidade.
            Em 28 de Julho de 1911 foi criada no Cuílo uma estação postal de 3.ª classe, desempenhando os serviços de venda de selos e outras fórmulas de franquia, e de correspondências ordinárias e registadas. A estação postal ficou a cargo do Comandante do Posto Militar que ali existia.
            Provavelmente, como não tinha marca de dia atribuída, inicialmente as correspondências eram obliteradas a manuscrito. Conforme anteriormente referimos só em 15 de Janeiro de 1917 é que lhe foi atribuído o carimbo volante n.º 37 pela Ordem de Serviço n.º 8 da Repartição Superior dos Correios.
Figura 1 – Carta remetida do Cuílo (08.07.20) para os EUA com trânsito por Malange (20.07.20).
Franquiada com 13c correspondente a: 5c pelo 1.º porte + 6c pelo 2.º e 3.ºs portes + 2c de excesso de porte.
Selos obliterados com carimbo numérico volante n.º 37

            Este carimbo, e correspondente sinete, terá estado em uso nesta estação até início do ano de 1940, data em que foi extinto o Posto Administrativo que ali funcionava.
            Em 1945 o carimbo volante referido aparece a obliterar correspondências da estação postal de Marimba.
Figura 2 – Carta remetida de Marimba (16.07.45) para Los Angeles (01.10.45) com trânsito por
Malange (19.07.45), Luanda (22.07.45) e Nova York (26.09.45). Franquiada com selo de 1$00 do
correio ordinário e selo de $50 do imposto postal (Assistência). Esta carta é um paradigma do funcionamento
dos correios ultramarinos. Presumivelmente a carta foi registada (registo manuscrito). Como foi possível
aceitar uma carta para registo sem a franquia exacta e tentar depois porteá-la? Também não era devido
o selo do imposto postal. Assim a carta deveria ter sido franquiada com 1$75 pelo 1.º porte (cartas com o peso
até 20g para o estrangeiro) e 2$00 pelo registo. Embora marcada com o carimbo de porteado não nos parece
que tenha siso cobrado o dobro do porte em falta no destino. Selos obliterados com carimbo numérico volante.

                Marimba era uma povoação comercial de 4.ª categoria. Inicialmente, cerca do ano de 1903, era conhecida por “Posto de D. Amélia” e manteve-se com esse até nome até que pela Portaria n.º 1055 de 28 de Setembro de 1911, passou a denominar-se de Marimba. Esta portaria tinha como finalidade banir os nomes da Dinastia de Bragança de todos os estabelecimentos e fortes de Angola.
            A povoação de Marimba foi, historicamente, muito importante por ter nas suas imediações o sobado de Cabombo cujo chefe se intitulava de Rei dos Jingas.
            Marimba foi ainda denominada Monteverde, teve ainda o nome de Caombo e actualmente voltou a denominar-se de Marimba.
            Economicamente era uma região muito forte, com explorações agrícolas muito importantes, destacando-se uma exploração de algodão concessionada à COTONANG. Malgrado a importância histórica, económica e política de Marimba, esta localidade apenas passou na estar servida por uma estação postal de 3.ª classe em 24 de Novembro de 1917, desempenhando os serviços de venda de selos e outras fórmulas de franquia, correspondências ordinárias e registadas, de acordo com a Portaria n.º 228.
            Desconhecemos a existência de marcas de dia, nesta estação postal, anteriores à utilização do carimbo volante n.º 37.

Bibliografia
·          Boletim Oficial de Angola
·          Dicionário Corográfico - Comercial de Angola – Antonito, 4.ª Edição – 1959
·          Índice Histórico-Corográfico de Angola, Mário Milheiros, 1972
·          Marcas Postais de Angola, Alexandre Guedes de Magalhães, 1986


domingo, 25 de setembro de 2011

Carimbos numéricos volantes (00) * Introdução

 


A – Introdução
            Desde 1986, quando da publicação da obra “Marcas Postais de Angola” da autoria do ilustre filatelista Alexandre Guedes de Magalhães, que não aparecia qualquer trabalho, versando o tema em título. Porque o trabalho, outrora elaborado, estava muito incompleto, decidi avançar com uma pesquisa mais aprofundada sobre a utilização daquelas marcas, resultando esse estudo na publicação de um artigo na extinta “Convenção Filatélica” em Novembro de 2002. Não foi um trabalho fácil, porque a distribuição das marcas era feita por ordens de serviço emanadas da Repartição Superior dos Correios de Angola. A obra mais indicada para as pesquisas seria o Boletim Oficial de Angola, mas acontece que, sendo os anos de 1914 e 1915 aqueles em que a maioria dos carimbos foram atribuídos às estações postais, aquele boletim não foi publicado. Para além disso, a partir de 1918, a redistribuição de alguns poucos carimbos, entretanto devolvidos à Repartição Superior dos Correios, não o foi feito por Ordem de Serviço como estava regulamentado. Um estudo deste teor nunca está terminado, pelo que vou retornar a este tema neste espaço, com uma nova abordagem e mais algumas achegas sobre a vida destes carimbos volantes.
B – Razões do aparecimento dos carimbos numéricos de duplo circulo
            A reforma dos Correios de Angola, encetada com a publicação dos “Regulamentos para o serviço de correios ultramarinos” no Boletim Oficial de Angola n.º 19 - Suplemento de 14 de Maio de 1903, determinou uma proliferação de estações postais de 3ª classe. Ainda sob os efeitos da Conferência de Berlim, que pelos artºs 34º e 35º do Acto Geral,  estabelecia só ser considerada efectiva a ocupação territorial quando apoiada por factos positivos de administração e polícia, as entidades governativas procuram fazê-la pela criação de uma vasta rede de Postos Militares, aos quais normalmente agregavam uma estação postal de 3ª classe a cargo do comandante do posto. Para se aquilatar desta proliferação de estações postais vejamos a sua evolução em finais do século XIX e início do século XX:
                        1896    -      45                                               1903     -     117                     
                        1897    -      45                                               1904     -     118
                        1898    -      46                                               1911     -     120
                        1899    -      46                                               1912     -     121
                        1900    -      56                                               1913     -     124
                        1901    -      56                                               1916     -     126
                        1902    -      59
            Como se pode verificar, pela estatística apresentada, o ano de 1903 viu nascer 58 novas estações postais ou seja o dobro das existentes. Estas 58 novas estações postais criadas foram todas de 3ª classe e quase todas junto de Postos Militares e alguns Postos Civis. Eram estações eram exploradas sem encargo para os Correios, pois os militares ou os funcionários da administração civil o faziam gratuitamente.
            A maioria destas estações postais não tinham carimbos obliteradores, mas também não são conhecidas muitas obliterações manuscritas em Angola o que torna o facto misterioso. Como se marcavam as correspondências nestas estações? É evidente que também não se conhecem muitos exemplares circulados obliterados com as novas marcas numéricas entretanto atribuídas. Exceptuando as marcas numéricas 10, 18, 26, 28 e 35 das quais são conhecidas várias cartas, todas as outras numerações são extremamente raras, e de algumas não se conhece qualquer carta ou selo obliterados.
            Assim para dotar algumas destas estações postais com marcas obliteradoras, remediar de imediato algum acidente num carimbo em uso, ou para uso em novas estações postais entretanto criadas, foram adquiridos numa primeira fase 20 exemplares de carimbos, numerados de 1 a 20. Pela Ordem de Serviço nº. 284 da Repartição Superior dos Correios de Angola de 05.08.1913 que transcrevemos de seguida foram oficialmente consagrados os carimbos numéricos de duplo circulo:
            “Tendo sido adquiridos por esta repartição para fornecimento às estações que os não possuam, 20 carimbos para inutilização de selos e igual número de sinetes para lacre, numerados de 1 a 20, conforme os modelos afixados nesta ordem de serviço e que acabam de dar entrada no respectivo depósito, determino que, sempre que alguns desses carimbos ou sinetes seja fornecido a qualquer estação, se faça constar em ordem de serviço os respectivos números e os nomes das estações a que foram fornecidos, para conhecimento do pessoal e devidos efeitos. Estes carimbos e sinetes serão fornecidos nos termos usuais do fornecimento de impressos, material e expediente e serão aumentados à carga das estações que os requisitarem.
Repartição Superior dos Correios de Angola, em Loanda, 5 de Agosto de 1913. = O Director, Leopoldo Carlos Madeira.
            Logo pela Ordem de Serviço 285, da mesma data, foram distribuídos os primeiros 5 carimbos e sinetes às estações postais de Cuamato, Quipungo, Capelongo e Cassinga no Distrito da Huíla, e à estação da Ilha de Luanda.
            Em pouco mais de meio ano foram distribuídos os primeiros 20 carimbos, pelo que foram adquiridos mais 10 exemplares, numerados de 21 a 30, em finais de 1915. Em Março de 1916 esgotou-se novamente o stock de carimbos, pelo que nova aquisição de 10 exemplares numerados de 31 a 40 foi efectuada, começando a sua distribuição em Setembro de 1916.
C – Morfologia dos carimbos
            Há três tipos distintos de carimbos numéricos de duplo círculo, que correspondem às três aquisições efectuadas. Não houve uma preocupação ou cuidado para nas novas encomendas de se manter a morfologia dos primitivos 20 carimbos.
a)      – Tipo 1
Corresponde aos primeiros 20 carimbos numerados de 1 a 20. São constituídos por dois círculos concêntricos , com 26 mm de diâmetro no circulo maior, e o número na parte superior da coroa circular. Datador ao centro em algarismos árabes , sendo o ano representado por dois algarismos. Como legenda lê-se “ PROVINCIA DE ANGOLA” em cima e “CORREIO” em baixo.
b)     – Tipo 2
Corresponde aos segundos 10 carimbos numerados de 21 a 30. Tal como os primeiros são constituídos por dois círculos concêntricos, com 26 mm de diâmetro no circulo maior e número na parte superior da coroa circular. A legenda superior também é igual, diferindo apenas do tipo 1 por a legenda inferior conter a palavra “CORREIOS” em vez de “CORREIO”.
c)      – Tipo 3
Pertencem a este tipo os 10 carimbos numerados de 31 a 40. Em relação ao tipo 2, estes carimbos apenas diferem no diâmetro do circulo maior que é de 31 mm.
            Acompanhando estes carimbos era sempre distribuído um sinete numérico para lacre, conforme imagem abaixo.
                                                        Sinete para lacre


Bibliografia
                        Boletim dos Correios de Angola
                        Boletim Oficial de Angola

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Estação Postal de Namacunde

            O topónimo Namacunde surge apenas em 1932, pela Portaria Provincial n.º 922 de 13 de Janeiro, publicada no Boletim Oficial de Angola n.º 3. Este novo nome foi atribuído pela referida Portaria ao antigo Posto Administrativo de Matemba, no Distrito do Cunene. Fica na fronteira sul de Angola, onde foi criado um posto de despacho alfandegário.
            Em redor deste posto de despacho nasceu uma povoação de 4.ª categoria, onde existiam sete casas comerciais, sendo 5 delas independentes e duas filiais. A principal actividade económica gira à volta do comércio com as populações nativas, sendo a caça uma das bases de subsistência das populações. A pecuária também desempenha um papel preponderante na economia da região.
Figura 1 – Carta remetida de Namacunde para o Funchal (26.08.43) com trânsito pelo Lubango
(21.06.43). Foi censurada em Cape Town e fechada com cinta modelo 1B3 amarrada à carta com carimbo
tipo 8A, letra E atribuído a Cape Town e em uso desde 01.01.43 a 10.07.44. Foi franquiada com $70
(1.º porte para cartas com peso até 20g para Portugal e Ilhas Adjacentes)

            A criação de uma estação postal de 3.ª classe coincide com a mudança da toponímia de Matemba para Namacunde. A estação era administrada pelo chefe do Posto Administrativo e desempenhava os serviços de venda de selos e outras fórmulas de franquia, bem como o serviço de correspondências ordinárias e registadas.
Figura 2

            A primeira marca obliterado conhecida é o carimbo numérico oval “250”, que aparece batido a preto (Fig.1). Este carimbo de recurso poderá ter servido por muitos anos, pois só se conhece uma marca de dia da estação muitos anos mais tarde. É um carimbo do tipo do 16.º grupo (1947), com o datador exclusivamente numérico, e com dois dígitos para o ano , e que aparece normalmente batido a violeta (Fig.2). Não conhecemos outros carimbos obliteradores nesta estação postal.

Bibliografia
·          Boletim Oficial de Angola
·          Dicionário Corográfico - Comercial de Angola – Antonito, 4.ª Edição – 1959
·          Índice Histórico-Corográfico de Angola, Mário Milheiros, 1972
·          Marcas Postais de Angola, Alexandre Guedes de Magalhães, 1986
·          British Empire Civil Censorship Devices World War II / Colonies and Occupied Territories in Africa”, John Little, 2000

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Estação Postal de Cassinga

            O aparecimento da povoação de Cassinga está intimamente relacionado com a fundação na região de uma missão da Congregação dos Padres do Espírito Santo. Esta missão já existia quando em 1885, para salvar o Presídio de Caconda, o Tenente Artur de Paiva organizou uma coluna militar que partindo daí se dirigiu ao Rio Cubango, tendo como objectivo a instalação de dois postos militares, que sustassem as investidas que os cunhamas e outros povos da região ovampo que habitualmente faziam sobre aquele Presídio. Quando a coluna se instalou junto da missão criou aí um posto militar pobremente guarnecido. Seguiu-se depois a instalação de mais dois postos militares, ambos de efémera existência (Princeza Amélia e Maria Pia) mas que foram a base da ocupação da região Ganguela.
            Este posto militar de Cassinga também foi conhecido por Posto Artur de Paiva a partir de 1909 (Portaria 97, Boletim Oficial n.º 5), tendo ficado adstrito, a partir de 12.12.1917, ao então criado Distrito Militar do Cunene com sede em Mulondo.
            Em redor do Posto Militar haveria de se desenvolver uma povoação de 4.ª categoria, que teriam um desenvolvimento extraordinário em finais da década de 60 com a descoberta de importantes jazidas de minério de ferro.
            A economia de então girava à volta de um conjunto de 4 casas comerciais, que se dedicavam ao comércio com os povos indígenas, destacando-se a permuta de cera, milho, gergelim, ginguba, feijão, massango e tabaco. A pecuária (gado bovino) também tinha um peso significativo na economia da região, para além da caça.
            Antes de ser instalada uma estação postal a povoação de Cassinga era servida por uma estação telegráfica. Somente em 18 de Maio de 1910 pela Portaria n.º 414, publicada no Boletim Oficial de Angola n.º 21 de 21 de Maio de 1910 é criada uma estação postal de 3.ª classe, ficando a cargo do chefe da estação telegráfica. Desempenhava os serviços de venda de selos e outras fórmulas de franquia, e de correspondências ordinárias e registadas.
            Não é conhecida qualquer marca de dia desde a data da sua criação até à atribuição em 5 de Agosto de 1913, pela Ordem de Serviço n.º 285 dos CTT, o carimbo e sinete para lacre com o número “4”. Presume-se que durante esse período as obliterações terão sido manuscritas.
Figura 1 - Postal ilustrado circulado de Cassinga (12.09.14) para Vila Real (12.11.14)
com trânsito pelo Lubango (02.10.1914). Franquiado com 10 reis correspondente ao porte
para postais ilustrados circulados para Portugal, Ilhas e outras Colónias.
            O carimbo volante teve uma existência efémera, pois desapareceu da estação em finais de 1916 não se sabendo qual o destino que lhe foi dado. Apurou-se pelo Boletim dos CTT de Angola de Dezembro de 1916 que foi levantado um auto de inquirição para se apurar as razões do extravio do carimbo. Presumimos que o seu extravio se manteve, pois não encontramos esta marca a obliterar objectos postais para além daquela data, sendo muito raros os espécimes filatélicos com esta obliteração. Reproduzimos na figura 1 um dos muito poucos exemplares conhecidos, obliterado com este carimbo numérico volante.
           
Bibliografia
·          Boletim Oficial de Angola
·          Dicionário Corográfico - Comercial de Angola – Antonito, 4.ª Edição – 1959
·          Índice Histórico-Corográfico de Angola, Mário Milheiros, 1972
·          Marcas Postais de Angola, Alexandre Guedes de Magalhães, 1986
·          Meio Século de Lutas no Ultramar, Bello de Almeida, 1937, Sociedade de Geografia de Lisboa

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

African Steamship Company em Angola

            A African Steamship Company foi fundada em 1852 pela empresa Elder Dempster & Company, Limited com um contrato estabelecido com o Governo Inglês para o transporte de malas de correio de Londres para a Madeira, Tenerife e Costa Ocidental de África.
            A partir de 1894 a companhia alargou a sua esfera de acção para os portos atlânticos dos EUA e Canadá. Em 1901, por contrato também estabelecido com o Governo Inglês para o transporte de malas de correio, estabeleceu uma carreira para as Índias Ocidentais, criando para isso uma nova empresa denominada Imperial Direct West Índia Mail Serviçe Company. Entretanto em 1903 negociou a venda da carreira do Canadá, incluindo a venda de 14 navios que navegavam nessa rota.
            A partir de 1888 iniciou uma nova ligação marítima pelos portos de África Ocidental, contemplando o porto de Luanda. Esta nova ligação partia de Hamburgo e tinha as seguintes escalas: Antuérpia, Tenerife, Las Palmas, Calabar, Lagos, Luanda e Banana.
            Dez anos depois, de dar início às suas ligações a Angola, a African Steamship Company através do seu agente em Lisboa, a sociedade E. Pinto Basto & C.ª, solicita ao Governo Português por requerimento datado de 26.02.1898, a atribuição da patente de privilégio de paquete para os todos os seus navios que faziam escala pelos portos de Angola.
            Mais informa este agente, que estes navios faziam o serviço de malas do correio britânico entre Liverpool e os portos da África Ocidental, assim como de Hamburgo para os mesmos portos e que na sua rota escalavam os portos portugueses de Cabinda, Ambriz, Luanda, Novo Redondo, Benguela e Moçamedes. Prontificava-se ainda a transportar gratuitamente as malas de correio tanto para a Europa, como para os portos de África em que fizesse escala.
            Por despacho de 28 de Janeiro do Ministério da Obras Públicas foi concedida a patente de paquete aos navios da African Steamship, e desse despacho foi dado o necessário conhecimento à Direcção Geral do Ultramar, através do ofício n.º 564 de 14.03.1898 daquele Ministério que reproduzimos de seguida.
            Por curiosidade, é de realçar que a data do despacho ministerial para a concessão da patente de paquete é anterior à data do requerimento apresentado pelo agente a solicitar tal privilégio.
            Em 14 de Fevereiro por ofício da 3.ª Repartição da Direcção Geral do Ultramar para o Governador-Geral de Angola, e para os devidos efeitos imediatos, é dada a informação da atribuição daquele privilégio aos paquetes da African Steamship. Com esta resolução ficou aberta mais uma via de encaminhamento de correspondências para a Europa e portos de escala da companhia na África Ocidental.

Bibliografia
·          Cota 3790 2G SEMU DGU Cx 1898 – Correios Ultramarinos – Processos findos – 1.º Semestre